São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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COMENTÁRIO

Livro rompe preconceitos sedimentados

GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Uma dose cavalar de desinformação e preconceito tende a atropelar o debate sério a respeito do efeito da violência na cultura pop sobre o comportamento de crianças e jovens.
Nesse sentido, "Brincando de Matar Monstros", de Gerard Jones, opera de forma eficiente no combate a preconceitos construídos ao longo do século passado, que se cristalizaram na medida em que filmes, programas de televisão, videogames e músicas se tornaram mais fortes e sanguinolentos.
A grande diferença de Jones em relação aos pesquisadores que vêem um nexo nocivo no consumo de violência e o identifica como causa da agressividade em jovens e crianças é a sua abordagem. Em vez de buscar causas e efeitos da exposição a programas de TV violentos ou a músicas agressivas -que não se sustentam num exame minucioso e racional-, Jones centrou seus esforços em descobrir o que atrai as crianças para o consumo de entretenimento violento.
Ouvindo educadores, psicólogos, pais e, principalmente, crianças e jovens, Jones conseguiu reunir provas suficientes de que o entretenimento violento ajuda as crianças a se fortalecerem, além de servir para que elas canalizem e aprendam a controlar sua agressividade.
O que embaralha a visão dos pais e de muitos pesquisadores é que, da maneira que estamos expostos à violência cotidiana, tentar minimizar a exposição a conteúdos agressivos torna-se quase um dever cívico.
Acontece que, no final, quem acaba confundindo realidade e fantasia somos nós, não as crianças que brincam de atirar ou os jovens que matam monstros e bandidos no computador.


BRINCANDO DE MATAR MONSTROS. Autor: Gerard Jones. Editora: Conrad. Quanto: R$ 35 (298 páginas).


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