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CINEMA
Na edição atual, Glauber Rocha (1938-1981) dá o tom da participação brasileira, com mostras, homenagens e filhos
Cannes deve ter "Pavilhão Brasil" em 2005
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
O ministro da Cultura, Gilberto
Gil, traz hoje à direção do Festival
de Cannes uma proposta de que a
divisão de mercado do evento, em
que são comercializados os filmes
de diversos países do mundo todos os anos, tenha em 2005 o Brasil como tema, na programação
do Ano do Brasil na França.
O pavilhão do mercado seria rebatizado de "Pavilhão Brasil". Na
articulação do evento, Gil e o secretário do Audiovisual do ministério, Orlando Senna, devem se
encontrar com o ministro da Cultura francês, Renaud Donnedieu
de Vabres, e o presidente da emissora estatal TV5, Serge Adda.
Segundo a Folha apurou, a idéia
encontrou boa receptividade do
diretor artístico Thierry Frémaux
e deve ser aprovada e anunciada
na festa que os organizadores do
festival e os distribuidores de filmes brasileiros fazem amanhã à
noite, nas areias da Croisette, a
avenida beira-mar do balneário.
Já na edição em andamento, o
cinema brasileiro é o principal tema da mais nova seção do festival,
criada neste ano e batizada de
Cannes Classics. O cineasta Glauber Rocha (1938-1981) e o cinema
novo, movimento do qual foi um
dos mentores, são homenageados
com a exibição de seis filmes, a
partir da noite de hoje.
Começa com "Bye Bye Brasil"
(1979), de Cacá Diegues, segue
com "Vidas Secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e "Deus e
o Diabo na Terra do Sol" (1964),
de Glauber, amanhã; "O Pagador
de Promessas" (1962), de Anselmo Duarte, na quarta, e "Macunaíma" (1969), de Joaquim Pedro
de Andrade, e "Terra em Transe"
(1967), de Glauber, na quinta-feira, com reprise de "Bye Bye" numa telona no meio da praia.
"Há 40 anos, "O Deus Negro e o
Diabo Loiro" [como foi batizado
na França a obra de Glauber] e
"Vidas Secas" deixaram os espectadores do festival estupefatos",
escreveu Thierry Frémaux no lançamento do Classics. Foi dele ainda a idéia de conceder uma gentileza extra aos cineastas brasileiros
que começam a chegar.
Cacá Diegues e Nelson Pereira
dos Santos desfilarão, respectivamente hoje e amanhã, no badalado tapete vermelho do Grand
Théâtre Lumière, a maior sala,
onde se enfileiram fotógrafos e cinegrafistas do mundo inteiro e
acontecem as exibições oficiais
dos títulos em competição, embora seus filmes sejam exibidos na
sala Buñuel, menor e ao lado, para
onde os brasileiros serão levados
em seguida, por uma porta lateral.
Mesmo 22 anos depois de sua
morte, o mais revolucionário dos
cineastas brasileiros parece dar o
tom da participação do país neste
Festival de Cannes 2004. Para começar, além dos filmes do próprio, o diretor Silvio Tendler exibe
"Glauber, o Filme, Labirinto do
Brasil" na seção fora de competição reservada a documentários
sobre a história do cinema.
Na competição, além de "Diários de Motocicleta", de Walter
Salles, está o curta experimental
"Quimera", de Eryk Rocha, filho
de Glauber, que será mostrado
aos jornalistas na sexta, numa sessão junto dos outros nove curtas
da categoria. Mais: entre os títulos
que vêm sendo exibidos para o
mercado (obras como "Lisbela e o
Prisioneiro", "Sexo, Amor e Traição" e "Nelson Freire", todos fora
de competição), estão sessões especiais de "Rocha que Voa", do
mesmo Eryk, e "Depois do Transe", este um documentário inédito de Joel Pizzini e Paloma Rocha,
também filha de Glauber.
A obra foi feita para o DVD de
"Terra em Transe", que deve sair
em junho. São 40 minutos com o
making of do clássico, cenas inéditas reunidas pela filha do cineasta e trechos de uma entrevista
pouco vista que ele deu quando
exilado em Roma, em 1975.
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