ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Enquanto a cultura popular nipônica é absorvida em quantidades industriais pela indústria do entretenimento ocidental ("Kill Bill", "Yu-Gi-Oh", "O Último Samurai", "Cowboy Bebop", games, mangás; escolha sua porta de entrada), só sentimos um pequeno tremor de um novo terremoto pop de alta intensidade cujo epicentro é o Japão.
"O Chamado", sucesso cult lançado por Gore Verbinski no ano passado, é apenas a ponta de um iceberg que aos poucos começa a mover Hollywood: o cinema de horror japonês, também conhecido como "J-Horror".
O gênero foi inaugurado pela versão original do remake estrelado por Naomi Watts, "Ringu", dirigido por Hideo Nakata em 1998. O filme conta a história da maldição de uma fita de vídeo, cujo conteúdo enigmático e perturbador provoca a morte de quem a assistir após uma semana.
Nesse primeiro filme, já constam elementos fundamentais do novo gênero, como lendas urbanas, a fusão do uso de tecnologia com referências ocultistas e o comportamento adolescente como ponto de partida das tramas, fazendo-o parente direto de clássicos dos anos 80 como "Videodrome", do canadense David Cronenberg, e "Poltergeist", de Tobe Hopper.
O "J-Horror" é tão referencial quanto a antiga safra pop de horror (as séries de filmes "Pânico" e "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado"), mas prefere esconder as evidências para enfatizar o terror psicológico que era ausente no horror americano da década de 90.
Dois bons exemplares do gênero vão ao ar hoje, pelos canais pagos HBO Premium e Cinemax. O primeiro é "Dark Water", penúltimo filme de Hideo Nakata. Depois de lançar "Last Scene", Nakata vai assumir o segundo remake norte-americano de um filme seu, a continuação para "O Chamado", que deve ser lançada ainda em 2004.
"Dark Water" conta a história de uma mãe divorciada que se muda para um apartamento em que estranhas aparições, como infiltrações corriqueiras, começam a aparecer. O filme foi adaptado para o mercado ocidental pelo diretor brasileiro Walter Salles, cujas filmagens terminaram há poucas semanas, e conta com Jennifer Connely ("Uma Mente Brilhante") encabeçando o elenco.
Já "Ring 0", que em inglês conta com o subtítulo "Birthday", é o terceiro filme feito com a grife Ring e conta a origem do fantasma da série, a garotinha Sadako. Talvez seja o menos assustador dos filmes sobre a fita e o fantasma, talvez justamente por se passar anos antes dos primeiros assassinatos. O diretor Norio Tsurita dirigiria "Kakashi", thriller sobre uma garota em busca do irmão no interior, em 2001.