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CRÍTICA
"The O.C." crê na adolescência sem fim
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Com o final de "Friends" e de
"Sex and the City", o público
jovem adulto fica praticamente
órfão de seriados. Aqui, o último
capítulo das aventuras de Ross e
seus amigos ainda irá ao ar em
julho na Warner, mas é só uma
questão de (pouco) tempo. Depois disso, com a possível exceção de "Will & Grace", não há
mais nenhuma série específica
para os telespectadores entre os
20-e-poucos e 30-e-tantos no ar
na TV paga brasileira, o que, ainda que de forma parcial e dessincronizada, reflete o cenário da
TV americana.
A tentativa de criar o novo
"Friends" a partir da aclimatação
do britânico "Coupling" foi tão
malsucedida que a série não durou mais do que uma temporada.
A aposta era mesmo bisonha de
início e, dado que o puritanismo
norte-americano exigia que o
conteúdo sexual dos diálogos
fosse abrandado, pouco sobrava
em "Coupling" que fosse capaz
de tomar o lugar de "Friends".
"Will & Grace", por sua vez, teria
tudo para tornar-se a bola da vez
-é engraçado, tem apelo pop, os
atores são carismáticos etc.-,
não fosse o fato de ter como protagonista um homem gay, o que,
por incrível que pareça, ainda
restringe a audiência.
A essa altura, a incrível indústria de ficção seriada norte-americana talvez esteja incubando
mais de um projeto para tentar
fazer o sucessor de "Friends".
O "spin-off" (série que tem origem em personagem de uma outra série) "Joey", com o ator Matt
LeBlanc, pode até ter melhor desempenho que as desastradíssimas tentativas pós-"Seinfeld",
mas certamente não repetirá o
sucesso de "Friends".
Adultos adolescentes
Enquanto não aparece o herdeiro de "Friends", o truque é fazer séries adolescentes com ar de
adultas, como "The O.C.". A sitcom que se passa numa daquelas
cidades da Califórnia que parecem criadas em laboratórios, onde todo mundo é bronzeado, sarado, bombado e corrigido pela
cirurgia plástica, vem se tornando uma espécie de surpresa de
audiência, tanto lá nos EUA
quanto cá.
O segredo da série talvez esteja
em criar um ambiente em que os
adolescentes parecem muito
mais velhos e adultos do que sua
idade e os adultos parecem muito mais jovens do que são. De
certa forma, ali, pais e filhos aparentam estar separados não por
uma diferença de geração, mas
por uns poucos anos de idade,
pelo peso da conta bancária e pela quantidade de intervenções estéticas já acumuladas.
É uma espécie de paradoxo,
que responde diretamente à tendência contemporânea de acreditar no mito da adolescência
sem fim, da eterna imaturidade
que permite às relações pessoais
manterem um altíssimo grau de
individualismo e de descompromisso, ao mesmo tempo que
promove a autonomia de escolhas (sobretudo de consumo) e o
endurecimento da personalidade cada vez mais precoces.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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