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O ESTRANGEIRO
Taiwanês faz últimos painéis do Marabá
"Quem pinta sou eu, mas ninguém sabe"
DA REPORTAGEM LOCAL
Ling Hu Cheng, 53, é um estrangeiro. O fato de ter nascido
em Taiwan e viver no Brasil é a
porção mais óbvia dessa condição, mas não é a única nem
tampouco a mais expressiva.
Seu ofício, por exemplo. Ling
ganha a vida a pintar enormes
painéis para o Marabá, no centro de São Paulo. O cinema é o
único da região, provavelmente da cidade, que continua a
anunciar os filmes em cartaz
com pinturas na fachada.
Os painéis, compostos de seis
telas conjugadas, medem 13 m
x 3 m e levam de dois a três dias
para serem pintados. Finda a
tarefa, Ling só volta à ação
quando o filme em cartaz está
prestes a ser substituído.
Não assina a obra e recebe
com desilusão o anonimato:
"Quem pinta sou eu, mas ninguém sabe, ninguém conhece".
Faz isso há 38 anos. Começou
aos 15, em Taiwan. Aos 18, chegou a Curitiba. Mudou-se para
São Paulo em 1975. Há 35 anos
no Brasil, não perdeu o forte
sotaque, que cria o "Malabá".
Funcionário da Playarte, precisa de uma autorização para
dar entrevistas. "Ele é uma pessoa humilde, de outra geração", tenta justificar a empresa.
Ling é alheio ao que se passa
na Playarte. Não tem nem idéia
do que será feito do lugar de
onde tira o sustento. "Não sei o
que vai acontecer. Reformar é
bom, fica tudo novo. Eu gostaria", diz, sem saber que o multiplex enterrará sua função.
Budista -um pequeno altar
enfeita sua oficina na avenida
São João-, o artista talvez
consiga assim realizar seu sonho: fazer esculturas de bambu
com desenhos de dragão.
(FV)
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