São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011 |
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Que rei sou eu? Influência para gerações em suas várias fases, Roberto Carlos chega aos 70 seduzindo público jovem que já o esnobou
MARCUS PRETO DE SÃO PAULO Na próxima terça-feira, Roberto Carlos faz 70 anos. E ninguém escapa dele. Esteja você onde estiver, vai ser lembrado disso em algum momento do seu dia -pelo rádio, pela TV, pelos jornais, pelo zunzunzum na rua. O Brasil chama Roberto de Rei desde os anos 1960. O artista se mantém desde então como o maior vendedor de discos do país. Lota os shows que faz. E, mesmo que não lance um álbum de inéditas há oito anos, é reconhecido como um dos nossos autores mais relevantes. Gerações que passaram a ouvi-lo depois dos anos 1990 -e seus shows são cheios de adolescentes- devem imaginar que esse prestígio se manteve intacto durante todo esse tempo. Não podem imaginar que, por cerca de dez anos, Roberto Carlos não seduziu a juventude. O estranhamento com a faixa etária que o alçou à fama começou por volta de 1982, segundo Paulo César de Araújo, autor de "Roberto Carlos em Detalhes", biografia vetada pelo Rei na Justiça. Quando o rock Brasil começa a despontar -com bandas como Blitz, RPM, Titãs, Legião Urbana, Ira! e Barão Vermelho -, o discurso de Roberto foi "encaretando". "O mesmo artista que já havia cantado que "tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda" [em 1976] passava a representar o contrário disso", diz Araújo. Quem assumia essa postura era Cazuza, por exemplo. "Mais uma dose? É claro que eu tô a fim", cantava. Alguma coisa na receita infalível do Rei tinha dado errado, e o público jovem mais antenado se afastou. Roberto não voltaria a se aproximar dele se dependesse só de um impulso artístico seu. Mas a obra trabalhou por ele. "As pessoas passaram a não se preocupar com o que o Roberto estava fazendo, mas com o que tinha feito no passado", diz o ex-Ira! Edgard Scandurra. "Aquela obra fantástica dos 60 e 70 não podia ser menosprezada." CARACÓIS O apelo do Rei entre os jovens começa a retornar em 1992. No show "Circuladô", Caetano Veloso revelava que "Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos" (1971) fora composta para ele quando estava exilado em Londres. "Ali, o público vê que Roberto tinha tomado uma atitude política que jamais imaginavam", diz Araújo. A gravação de "Caracóis" foi para a rádio e colocou a música, então semiesquecida, nas paradas de sucesso. Mais sucesso ainda faria, no ano seguinte, "As Canções que Você Fez pra Mim" -o álbum inteiro que Bethânia dedicaria às composições de Roberto (e Erasmo). Mesmo quem insistia em chamar Roberto de brega foi obrigado a assumir suas qualidades como compositor. Os passos seguintes foram dados por alguns daqueles mesmos artistas que o encobriram na década anterior. Lançado em 1994, o álbum-tributo "Rei" trazia justamente Barão, Blitz, Kid Abelha e Paulo Miklos (dos Titãs). "É Proibido Fumar", com Skank, vira hit. De novo. Segundo Miklos, nenhum dos envolvidos no CD tinha em mente "resgatar" Roberto -até porque ele vendia mais que qualquer roqueiro. "Queríamos explicitar a influência dele, a importância da música nos primórdios do rock que fazíamos." Com os Titãs, Miklos voltaria a contribuir com o retorno de Roberto à juventude em 1998, quando a banda pinçou do baú a filosófica "É Preciso Saber Viver". Uma das mais tocadas do ano, voltou ao repertório do Rei. Canções de Roberto entrariam em discos do Jota Quest, do Kid Abelha, de Sandy & Junior e de Luiza Possi. Seus shows atuais recebem muitos dos mesmos espectadores que o negaram nos 1980. Hoje trintões, choram de emoção quando o Rei surge no palco e canta. Texto Anterior: Novelas da semana Próximo Texto: Opinião: Ruptura nos 80 foi necessária, mas ele sempre esteve no topo Índice | Comunicar Erros |
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