São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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OPINIÃO

Ruptura nos 80 foi necessária, mas ele sempre esteve no topo

PAULO RICARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Havia alguma coisa errada com o rei." Nesse verso de "Rádio Pirata", meu inconsciente manifestava a ruptura com o establishment que nossa geração buscava.
Quase sem querer, a figura do Rei caiu como luva. Eu, súdito leal de Roberto 1º, precisava matar meu pai, negar minhas origens, para dar o passo que o momento exigia.
Roberto Carlos foi minha primeira grande influência.
Aos cinco anos, já cantava suas canções em programas de TV da época. Mimetizava cada verso, melodia e trejeito. Vestia calças Calhambeque e colecionava memorabilia da Jovem Guarda.
Vi seu primeiro show aos cinco, na inauguração do supermercado Casas da Banha, na Tijuca. Meu pai me pôs no palco, mas os adultos foram mais rápidos e me perdi, acabei indo para casa sozinho...
Em 1985, o conheci numa festa da Rádio Tupi. Muitas emoções. O carisma de Roberto é letal. Confesso que fiquei preocupado com a possibilidade de ele ter ouvido "Rádio Pirata" e notado alguma provocação. Não creio que o tenha feito.
Mas, naquele momento, artisticamente, havia sim alguma coisa errada com o Rei.
Desde os 11 anos mergulhado na beatlemania e no rock, afastei-me de Cachoeiro do Itapemirim.
Londres era o objetivo, e o Roberto dos botões da blusa, dos caminhoneiros, dos taxistas e das gordinhas de óculos ficava para trás.
Em 1991, o diretor Aloísio Legey me ligou para participar de um "Globo Repórter".
Disse que ele havia me escolhido como seu cantor favorito e queria que eu regravasse "Detalhes". Quase morri.
Hoje, me reconciliei com meu "pai", com minhas influências, e, aos 70 anos, Roberto está onde sempre esteve, no topo.

PAULO RICARDO é cantor, compositor, vocalista e baixista da banda RPM.


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