São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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DEPOIMENTO

"Nicinha mandou servir uísque para esperarmos o futuro Rei"

ROBERTO FARIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Era 1967. Roberto e eu acabáramos de nos conhecer. Começávamos os preparativos para a produção do "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura".
Eu, nove anos mais velho, não era propriamente um expert em música jovem. Mas era hora de escolher as canções do filme. Roberto, sempre gentil, marcou um jantar na casa dele em São Paulo.
Iríamos José Medeiros, diretor de fotografia, e eu. Antes de sairmos do hotel, encontrei, por acaso, um cunhado, empresário do setor de tecidos, que dava uma festa. Por insistência dele, tomei um uísque. Minha bebida é o vinho. Uísque nunca.
Ao chegar à casa do Roberto, ele ainda não chegara.
Nicinha, sua mulher, nos recebeu com alegria, entusiasmada com o filme. E mandou servir uísque para esperarmos o futuro Rei.
Zé Medeiros aceitou e eu não recusei. Afinal, o momento era de alegria e eu não queria explicar minha preferência pelo vinho.
Roberto ainda tardou um pouco e, quando chegou, fomos para a mesa. Vinho eu não recuso, tomei dois copos. Os dois uísques e o vinho me deixaram bem relaxado para ouvir as músicas.
Passamos para a sala, onde Roberto começou a cantar e sugerir as que deveriam estar no filme e no LP. Fechei os olhos e fiquei ouvindo. De repente, senti uma cutucada.
-Você está dormindo!
-Que dormindo, Zé. Estou de olhos fechados, prestando atenção.
E o Roberto cantando: "Eu sou terrível... Eu sou terrível...".
Outra cutucada do Zé:
-Você está roncando!
Acordamos que o melhor era deixar para outro dia...
Mas a história não termina aí.
Pouco mais de um ano depois, estávamos Antônio de Pádua Pereira de Almeida, o Padu, Zé Medeiros e eu esperando Roberto para assinar o contrato de cinco filmes.
Desta vez, Lei Seca. Nicinha não mandou servir nada. Roberto custava a chegar. Sozinhos na sala, Padu foi ficando impaciente.
-Não vão servir nada?
-Calma, Padu. Daqui a pouco o Roberto chega.
Aproveitando um momento em que Nicinha passava, Padu pediu um uísque. E ela, apavorada:
-Uísque não. De jeito nenhum. Guaraná!

ROBERTO FARIAS dirigiu "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa", "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" e "Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora".


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