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Para autor, violência, desemprego e desrespeito a direitos humanos não podem faltar em novela das oito
"Elite está um pouco mais ética", diz Braga
DA REDAÇÃO
Continuação da entrevista de Gilberto Braga sobre
"Celebridade", novela das oito da
TV Globo com estréia prevista para o dia 13 de outubro.
Folha - "Celebridade", então com
o título de "Fama", estava prevista
para entrar no ar em junho do ano
passado. Na época, ventilou-se na
Globo que houve veto da cúpula da
emissora a personagens de celebridades instantâneas, criadas por
"reality shows". A Globo não aceitou essa autocrítica?
Braga - A sinopse foi feita no primeiro semestre de 2001. Eu também li em alguns jornais que a direção da emissora não queria a temática ["reality shows"], mas
acho que são cogitações. Isso
nunca me foi dito e não haveria
motivo para que não dissessem.
A história deveria ir ao ar depois
de "O Clone". Não foi porque
houve uma pré-venda de "Esperança" para a Itália. Ficou acertado que iria em seguida. Na época
de começar a escrever, pediram
que eu mudasse o meio em que a
história se passava. Porque a protagonista era uma estrela do jornalismo televisivo, não baseada
em ninguém da vida real em especial. Mas a gente ia precisar de
muitas cenas com essa jornalista
no ar, isso criava uma certa confusão para o departamento jornalístico, e me foi pedido que modificasse a atividade da protagonista.
Isso implicava várias mudanças
de trama. Para eu ter tempo de fazer essas mudanças, a solução foi
realizarem "Mulheres Apaixonadas" antes. Optamos pela profissão de empresária musical para a
protagonista.
Não senti qualquer problema de
que a Globo não aceitasse alguma
autocrítica, até porque não havia
qualquer crítica à protagonista.
Foi considerado que poderia ficar
confuso ter uma jornalista de televisão protagonizando uma novela, e eu concordo totalmente.
Folha - Sua última novela das oito
foi ao ar há nove anos. Por que ficou tanto tempo fora do horário
nobre? A Globo o colocou na geladeira depois de "Força de um Desejo", que não foi um sucesso?
Braga - De "Vale Tudo" (1988)
em diante, meus contratos prevêem uma novela a cada três
anos. Fiz "O Dono do Mundo"
(1991), a minissérie "Anos Rebeldes" (1992), "Pátria Minha"
(1994/95) e a minissérie "Labirinto" (1998). Eu fiz "Força de um
Desejo" (1999) às 18h porque a direção da emissora queria um remake de "Dancin" Days" para as
18h, e eu só estava interessado em
escrever o remake para as 21h.
Me ofereci para fazer uma novela das seis porque o contrário me
pareceria antipático. Assim, a
Globo fez outro remake de um
grande sucesso de "novela das oito" às 18h, "Pecado Capital", e eu
escrevi "Força de um Desejo".
Que a meu ver foi bem-sucedida,
eu gosto bastante da novela.
"Força" estreou com uma média de 26 pontos e nunca passou
dos 28, o que é baixo para o horário. E teve bem pouca repercussão. Ninguém na emissora jamais
me pediu para mudar o que quer
que fosse, os "group discussions"
[pesquisas com telespectadores]
eram bons. Por que não chegávamos a 30 pontos antes das semanas finais eu não sei.
Folha - Detecta alguma dificuldade em lidar com o grande público?
Braga - Eu sempre tive dificuldade em lidar, não digo com o grande público, mas com o público tão
heterogêneo que assiste a uma
novela. A gente quer agradar a todos. Isso sempre me pareceu a
maior dificuldade na realização
de novelas.
Folha - Como você vê as lésbicas
de "Mulheres Apaixonadas", que
não tiveram rejeição? Ficou mais
fácil abordar temas polêmicos?
Braga - Acho uma história muito interessante. Mas as lésbicas de
"Vale Tudo" também não tiveram rejeição, assim como o casal
gay de "A Próxima Vítima" [Sílvio de Abreu, 1995]. Em "Torre de
Babel" [Sílvio de Abreu, 1998],
acho que o problema foi que tínhamos duas estrelas nos papéis.
Por enquanto, é mais fácil que se
aceite homossexualismo com atores menos conhecidos.
Folha - A atual novela das oito é
um dos maiores sucessos de audiência dos últimos tempos. A responsabilidade de manter essa audiência (ou pelo menos não perder
muito) não lhe tira o sono?
Braga - Espero que a minha novela agrade. E prefiro entrar depois de um grande sucesso. Levantar horário é mais penoso.
Folha - Você teme a rejeição de
determinados personagens, como
já ocorreu em outras novelas suas?
Está tomando cuidados?
Braga - Eu só me lembro de ter
tido problema de rejeição na personagem de Malu Mader de "O
Dono do Mundo". Muita gente
considerou que o vilão (Antonio
Fagundes) estava certo em seduzir a noiva virgem porque "era o
seu papel de homem" e ela foi "leviana" por ter cedido.
Nós conseguimos logo conquistar alguns espectadores que chegamos a perder por umas três semanas para a novela mexicana
"Carrossel" [SBT].
Folha - O Brasil ainda merece uma
banana, como fez o personagem de
Reginaldo Farias no final de "Vale
Tudo"? O Brasil está mais ético?
Braga - Nunca pensei nesses termos. O Brasil da era anterior a
Fernando Collor [de Mello] não
merecia aquela banana. O gesto
foi característico de uma elite que
só pensa em si. Essa elite infelizmente ainda existe, mas está com
as barbas bem mais de molho.
Felizmente estamos vivendo
dias em que a ética parece uma
preocupação geral. Há quem considere que a discussão de ética
proposta em "Vale Tudo" até
contribuiu para isso.
Folha - Desde que você começou a
fazer novela, quais são as principais mudanças sociais que ocorreram no país?
Braga - Acho que a elite ficou levemente mais ética, ao menos os
mais reacionários já têm na maioria das vezes consciência de que
devem disfarçar um pouco. É um
avanço, embora a elite ainda esteja bem longe de entender mesmo
os direitos de cada cidadão.
Folha - Três elementos da realidade brasileira que não podem faltar em uma novela das oito.
Braga - Desemprego, violência e
desrespeito a direitos humanos.
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