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Autor de "Dancin" Days" e "Vale Tudo" volta ao horário nobre da Globo em outubro, com trama sobre celebridades
Pescador de ILUSÕES
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
O escritor Gilberto Braga, 57, está finalmente saindo da outrora
espaçosa geladeira da Globo. Em
outubro, nove anos depois de sua
última novela das oito, "Pátria
Minha", o autor, um dos mais respeitados do país, volta ao horário
nobre, com "Celebridade".
Depois de 1994, o criador de
"Dancin" Days" (1978) e "Vale Tudo" (1988) escreveu uma minissérie, "Labirinto" (1998), e uma novela das seis, "Força de um Desejo" (1999). Nesses nove anos, Manoel Carlos, Aguinaldo Silva e Benedito Ruy Barbosa emplacaram,
cada um, três novelas das oito.
Gilberto Braga, que teria caído
em "desgraça" após o relativo fracasso de "Força de um Desejo",
não entra em divididas. Prefere
admitir que sempre teve dificuldade em lidar com um público tão
heterogêneo como o que assiste a
telenovelas. "A gente quer agradar a todos. Isso sempre me pareceu a maior dificuldade na realização de novelas", diz.
"Celebridade" será sobre o universo da fama -tema já visitado
no cinema por Woody Allen em
"Celebridades" (98). Será protagonizada por Malu Mader, que viverá uma promotora de shows rodeada de candidatos à fama e de
jornalistas, nem sempre éticos. A
personagem de Malu, Maria Clara, terá como antagonista a vilã
Laura (Cláudia Abreu).
A novela entraria no ar em junho do ano passado. Foi adiada
duas vezes, e cedeu lugar para
"Esperança" e "Mulheres Apaixonadas". Na primeira ocasião em
que foi adiada, o problema teria
sido a existência em sua trama de
personagens que obtiveram fama
instantânea em "reality shows".
Depois, a Globo pediu a Braga
que mudasse a profissão da protagonista, inicialmente uma estrela
do telejornalismo, o que incomodou o departamento de jornalismo da emissora, que temia confusão entre a ficção e a realidade.
"Celebridade", segundo Gilberto Braga, não tem a pretensão de
ser um retrato do Brasil como foi
"Vale Tudo". É apenas mais uma
novela centrada nos conflitos entre duas mulheres. Mas tem todos
os elementos de suas novelas.
Na entrevista a seguir, por e-mail, o ex-jornalista Gilberto Braga fala de sua novela e das elites,
que, segundo ele, estão mais éticas
do que na época de "Vale Tudo".
Folha - Suas novelas são famosas
por retratar conflitos entre classes
sociais e temas (pelo menos outrora) polêmicos, como corrupção. O
que teremos em "Celebridade"?
Gilberto Braga - Acho que você
está falando mais de "Vale Tudo"
e "Pátria Minha", porque em
"Dancin" Days", "Água Viva",
"Corpo a Corpo" ou "O Dono do
Mundo" não havia nada disso.
Não tenho por objetivo repetir o
universo de "Vale Tudo", apesar
de ser minha novela preferida.
Folha - A imprensa foi coadjuvante em várias de suas novelas. Agora, aparentemente, ela será central. "Celebridade" terá uma abordagem crítica da imprensa? Até
certo ponto, não seria uma autocrítica da própria Globo? Você não teme reações de veículos que eventualmente se sintam atingidos?
Braga - A imprensa não me parece central e, sim, coadjuvante.
Às vezes, com uma dose de crítica
aos jornalistas que não respeitam
privacidade. Felizmente, não se
trata da maioria. A história deixa
muito claro que a maior parte dos
jornalistas é do bem, checa suas
fontes etc. Já alguns são capazes
de atitudes pouco éticas para ter
matérias de impacto.
Apesar de o vilão (Renato, vivido por Fábio Assunção) ser editor
de uma revista que lida com celebridades (e ele não é vilão só como jornalista, seu mau-caratismo
abrange áreas distantes de sua vida profissional), e haver um repórter (Joel, André Barros) e um
paparazzo (Ivan, Marcelo Laham)
sem grandes escrúpulos, além de
um segundo repórter agressivo,
de participação secundária (Guilherme, Marcelo Valle), temos o
dono da cadeia de revistas (Lineu,
Hugo Carvana) totalmente ético
no que toca à privacidade, o editor de uma outra revista, um semanário de nome "Palavra", um
exemplo de ética (Queiroz, Otávio
Muller), o jornalista admirável
que, no início da história, passa
por uma fase de decadência (Cristiano, Alexandre Borges), um fotógrafo glamouroso super do
bem (Bruno, Sérgio Menezes) e
uma repórter da revista "Fama"
muitíssimo simpática, gente boa
mesmo, que vibra com seu trabalho (Vitória, Débora Lamm).
Enfim, me parece haver um
bom equilíbrio entre jornalistas
éticos e não-éticos.
Folha - Uma das locações será um
centro empresarial que representa
a fictícia Editora Vasconcelos, dirigida pelo personagem de Hugo
Carvana, que terá revistas e canais
de TV. Não seria uma referência às
Organizações Globo?
Braga - Não, a Editora Vasconcelos não me parece ter nada a ver
com a Globo.
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