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CRÍTICA
A TV precisa melhorar desde sempre
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
"A televisão brasileira já
está em condições de dosar melhor as suas mensagens
sociais, equilibrando o entretenimento saudável com a função
educativa que figura também, e
principalmente, entre os seus
atributos. De outra forma ela estaria desperdiçando seu extraordinário poder de influenciar a
massa (...)." O trecho é de editorial publicado em dezembro de
1971, no "Jornal do Brasil" com o
título "Qualidade na TV".
O gancho, como se diz no jargão jornalístico, eram os apelos
do então ministro das Comunicações, Higino Corsetti, pelo
aprimoramento da programação
de TV. O ministro reunira-se
com representantes das emissoras para "assegurar uma transmissão de alto nível" por ocasião
da estréia da TV a cores no Brasil,
marcada para 31 de março do
ano seguinte. Não por acaso, data
do oitavo aniversário do golpe de
64 -a expansão da rede de TV
foi projeto caro aos governos militares.
Mais de 30 anos se passaram, a
tecnologia avançou muitas léguas para além da transmissão
em cores, mas as discussões sobre qualidade na TV moveram-se apenas alguns milímetros. As
noções que norteiam o editorial
continuam em voga. Em primeiro lugar, era e ainda parece ser
um consenso a idéia de que a TV,
de maneira geral, precisa melhorar. É como se à TV fosse concedido uma espécie de benefício da
dúvida -aquilo que eu estou
vendo é uma porcaria revoltante
ou de uma repetição entediante,
mas não é a verdadeira TV, é apenas o que fizeram com ela. A TV
de verdade estaria num outro patamar, de "nível" mais elevado.
Em segundo, vincula-se qualidade a objetivos educacionais. A
TV boa, de qualidade, seria aquela que educa, que ensina alguma
coisa para o espectador. É curioso que, dos produtos da indústria
cultural, por alguma razão é à TV
que cabe essa expectativa de ocupar o papel de educadora -o
que equivale, na outra ponta, a
atribuir uma importância demasiada à sua influência, boa ou má.
Por fim, tanto 30 anos atrás
quanto hoje, há uma enorme dificuldade de estabelecer um ponto de vista: a TV é péssima, todos
concordamos. Mas de que ponto
de vista se está observando a qualidade? Estético? Cultural? Educativo? Formal? Tecnológico? Da
responsabilidade social?
É preciso definir melhor o que
queremos -ou não- da TV.
Ela deve ser um meio de comunicação e entretenimento? Deve dividir a função de educador com a
família e com a escola? Deve ser a
vitrine da cultura nacional? Deve
ser uma máquina de fazer lucros
para empresas privadas que exploram uma concessão pública?
Deve ser a nossa Hollywood, na
falta de um cinema de massas?
PS: Devo a descoberta do editorial do "Jornal do Brasil" ao excelente site TV Pesquisa (www.tv-pesquisa.com.puc-rio.br), um acervo de textos publicados
na imprensa desde 1967 e atualizado diariamente.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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