|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTIBAIXARIA
Campanha convoca telespectador a apagar o televisor hoje; profissionais da TV dizem quem merece "apagão"
Personalidades "desligam" Gugu e mundo cão
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você tivesse que desligar sua
TV por uma hora, qual escolheria? Que programa, em sua opinião, merece o seu "apagão"?
Hoje, a campanha Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania convoca telespectadores a
desligar a TV por uma hora, das
15h às 16h. Se esse tipo de iniciativa tivesse algum impacto no Ibope -o que não costuma ocorrer- seriam prejudicados, entre
outros, Gugu (SBT), Faustão
(Globo) e Márcia Goldschmidt
(Band), cujos programas começam a ser exibidos nesse horário.
A intenção da mobilização, ligada à Câmara dos Deputados, é
protestar contra conteúdos que
"desrespeitam os direitos humanos e a cidadania" e instituir o 17
de outubro como Dia Nacional
Contra a Baixaria na Televisão.
Apesar de domingo ser uma espécie de símbolo da guerra por
audiência, "baixarias" denunciadas por telespectadores abarcam
os outros dias da semana. Por essa
razão, a Folha perguntou aos próprios profissionais da TV que
programa mereceria um "apagão" sem restringir ao horário e
data estipulados pela campanha.
Foi citado o telejornalismo
mundo cão, que agoniza mas ainda sobrevive, que tem como seus
principais representantes o "Cidade Alerta", da Record, e o "Brasil Urgente", da Band. Os policiais
foram escolhidos pelo novelista
da Globo Silvio de Abreu e o apresentador da TV Cultura Marcelo
Tas, que os chamou de "safados"
e "urubus da miséria humana".
Os religiosos também tiveram
destaque. Aguinaldo Silva, autor
de "Senhora do Destino" (Globo),
afirma que o missionário RR Soares, que tem programa diário no
horário nobre da Band, seria desligado por ele "sem dúvida".
Autor de novelas e séries, Lauro
César Muniz respondeu com humor. "Desligaria as novelas mexicanas, sobretudo as produzidas
fora do país", disse, numa alfinetada a tramas brasileiras que têm
pinta de produção do México.
Gugu Liberato, o sábado à noite
-cujas atrações de maior audiência são "Zorra Total" (Globo)
e "A Praça É Nossa" (SBT)- e o
horário político também foram
"vítimas" do "apagão" dos entrevistados.
Apagão mundial
A idéia é boicotar a TV não é
inédita. Há pelo menos quatro
anos, existe a campanha "TV Turnoff Week" (no Brasil, batizada de
"Semana sem TV"), organizada
por sites de vários países, sempre
no fim de abril (ver www.adbusters.org e www.whitedot.org).
Mais do que protestar contra
conteúdos "pobres", os idealizadores têm a intenção de mostrar o
tempo que "se perde" em frente à
TV e como esse período poderia
ser preenchido com atividades
"mais úteis", como ler, ouvir música e conversar.
É mais um dos exemplares de
campanhas e boicotes surgidos
com o avanço da internet. Em
2001, a campanha ganhou uma
vertente brasileira que pregava,
via corrente de e-mails, o "apagão" da TV por 15 minutos.
À época, o estudante paulistano
Bruno Tozzini, então com 17
anos, contou à Folha que difundiu a "Semana sem TV" entre
amigos e familiares. Só conseguiu
desligar o televisor de seu quarto
-a mãe, por exemplo, adorava o
"Show do Milhão", do SBT.
Hoje com 21 anos, ele não desistiu do protesto e se "profissionalizou" no ramo. "Tenho um núcleo
de ativismo há dois anos, que,
além da TV, também aderiu ao
"Dia de Não Comprar Nada", em
28 de novembro."
Seu grupo também esteve em
eventos como o Fórum Social
Mundial, a Parada AME São Paulo e uma ocupação num prédio
com integrantes do MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro).
Nesses últimos quatro anos,
Tozzini "apagou" a TV em abril.
Ainda não tinha ouvido falar da
campanha de hoje, mas, como era
de esperar, apóia a proposta.
Mais novato no boicote televisivo, o estudante de publicidade
Dante Augusto Cabral, 20, aderiu
à "Semana sem TV" neste ano.
Em sua casa, em Natal (RN), ele
também só pôde desligar o aparelho do seu quarto, já que não contou com a adesão da irmã, de 16
anos, e dos pais.
"Tentei convencê-los, mas não
teve jeito. Só um amigo topou ficar sem TV por uma semana."
O televisor, segundo ele, foi trocado por livros e CDs. "A TV traz
poucos benefícios para mim e não
quero sofrer lavagem cerebral."
A TV na TV
Além da proposta de boicote,
este domingo terá uma série de
atividades para discutir a televisão. A principal delas será um
programa transmitido das 14h às
15h pela TV Cultura de São Paulo,
TVE do Rio, além de outras educativas, comunitárias, legislativas,
universitárias etc.
Produzido em parceria pela Radiobrás (estatal de comunicação
do governo) e o Fórum Nacional
pela Democratização da Comunicação (FNDC), o debate contará
com a participação do deputado
Orlando Fantazzini (PT-SP),
coordenador da campanha Quem
Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, do jornalista Daniel
Herz, um dos fundadores do
FNDC, do sociólogo Laurindo Lalo Leal Filho, da ONG TVer, e da
psicanalista Maria Rita Kehl, co-autora do livro "Videologias - Ensaios sobre a Televisão".
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Música: Homem-banda, Ben Jor reina na multidão Índice
|