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MÚSICA
Artista reagrupa Banda do Zé Pretinho para mostrar CD que gravou só e fala dos súditos Racionais e Nação Zumbi
Homem-banda, Ben Jor reina na multidão
Luciana Whitaker/Folha Imagem
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Jorge Ben Jor ensaia com sua Banda do Zé Pretinho, no Rio, para show que mostra pela primeira vez em SP na sexta e no sábado |
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
É hora de reagrupar a Banda do
Zé Pretinho. Jorge Ben Jor, 62,
chega animado ao galpão da gravadora Universal, no Rio, onde
vai ensaiar a conversão do recém-lançado disco "Reactivus Amor
Est (Turba Philosophorum)" em
show de banda e "band leader".
"Para animar a festa", dispara,
como em substituição a um "oi"
ou "boa noite". Fará poucos ensaios até os shows marcados para
São Paulo na sexta e no sábado
próximos -afinal, vem azeitando sua Banda do Zé Pretinho por
quase três décadas de estrada.
Ben Jor tem gostado de explicar
que trabalhou sozinho no novo
CD, produzindo, compondo, cantando e tocando feito homem-banda. Mas mistérios se escondem atrás de sua solidão produtiva, e ele não facilita a resolução
dos enigmas -leia abaixo como
ele explica o que é Jorlando Rollins Music, a que são creditados
os arranjos e programações eletrônicas do álbum.
Seja Jorlando Rollins uma pessoa, um grupo ou uma entidade
secreta, o fato é que Ben Jor nunca
está realmente só. Falando à Folha antes do ensaio, comenta a
amizade com o rapper Mano
Brown (que batizou seus filhos de
Jorge e Domingas, em homenagem a ele e a sua mulher) e com
outros dos muitos artistas mais
jovens que o cultuam como rei.
Comenta também o comboio
Los Sebosos Postizos, que reúne
músicos das bandas pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A em torno de releituras de
suas composições dos anos 60 e
70. E então vai ensaiar, contente.
Folha - Como você fará para reproduzir no palco um CD que se utiliza tanto de recursos eletrônicos?
Jorge Ben Jor - É, reproduzir direto não dá, né? Teria que ter dois
teclados, um DJ... Seria até mais
fácil que fazer com banda. Mas estamos passando algumas frases
dos sintetizadores para os metais.
Folha - Quem ou o que é Jorlando
Rollins Music?
Ben Jor - São meus assistentes
musicais, que trabalham comigo,
mas não interferem no meu trabalho. Eles dão as dicas de como é
que a gente pode fazer, mas o trabalho todo foi meu mesmo, produzido e tocado por mim. Só não
toquei pandeiro e conga no disco.
Folha - Foi você que fez as programações eletrônicas?
Ben Jor - Não, as programações... Fiz, sim, em Orlando
(EUA), onde comecei a gravar.
Gravei um pouco lá, um pouco
aqui, em todo lugar.
Folha - Esses assistentes são músicos conhecidos?
Ben Jor - Não, não são. É mais esse pessoal que existe muito nos
Estados Unidos, que não chega a
ser DJ, é mais pessoal técnico de
estúdio, de gravação, que conhece
detalhes de como plugar, tira vantagem de tudo. É uma coisa incrível, lá há universidade para isso.
Eles dominam a técnica, você fica
bobo. Mas não passam para ninguém também. Me ensinaram, senão não daria para fazer.
Folha - O novo disco remete à fase
dos anos 80, dos sintetizadores de
Lincoln Olivetti, não?
Ben Jor - Aprendi muito com
Lincoln Olivetti, Serginho Trambone, aquela cozinha e aquela
metaleira toda. Como músico que
gosto de ser e quero ser, é bom para mim estar perto deles, porque
aprendo mais. Foi muito boa
aquela fase, fiz um disco todinho
com Lincoln, "Alô, Alô, Como
Vai?" (80). Foi tão difícil que nenhuma banda conseguia tocar.
Fui muito criticado na época, mas
era uma inovação. Hoje todo
mundo faz. Mas, realmente, eles
foram os pioneiros desse som,
passaram para as bandas que tocavam em baile.
Folha - Lincoln Olivetti não é um
dos Jorlando Rollins Music?
Ben Jor - Não. Ele poderia até ser,
porque ele faz tudo sozinho. Lincoln é uma escola. Você chega na
casa dele, ele está lá com uma luzinha que só ele enxerga, não mexe
em nada. Não tem ninguém, não
tem roadie, nada -é só ele.
Folha - Como foi sua participação
no show que vai virar o primeiro
DVD dos Racionais MC's?
Ben Jor - Mano Brown me chamou lá para fazer, falei "vou". Estava chovendo, o Sesc lotado. Eles
são poderosos, quando chegaram
todo mundo começou a cantar,
foi arrepiante. Sempre falo com
Mano Brown, ele me liga ou às vezes eu ligo para ele, brincamos falando dos nossos times.
Na periferia de São Paulo as músicas mais pedidas são "Jesualda"
(75), "A Princesa e o Plebeu" (64),
"Magnólia" (74), "Domênica"
(70), só coisa de baú, que aprendem em baile. No show dos Racionais veio garoto me perguntar:
"Você que é o dono de "vamos
passear no parque" [trecho de
"Domingas", citada pelos Racionais em "Fim de Semana no Parque"]? Falo "sou eu".
Folha - Você já ouviu Los Sebosos
Postizos?
Ben Jor - Já vi, tocam só música
minha. Eu já gosto da Nação
Zumbi há mais de dez anos. Vi
quando estavam começando,
achei uma coisa diferente na praça, uma sonoridade forte, de tambores, aquela coisa bem tribal,
guitarra elétrica. E depois tinha
um cara tocando cavaquinho,
suingando, pô, era Fred Zero
Quatro [do Mundo Livre S/A].
Que legal, é uma história nova. A
música do Nordeste só vinha como baião, xote, essas coisas. Eles
chegaram, foi sensacional.
Folha - O que você acha da releitura soturna que fazem de sua
obra, sempre tida como alegre?
Ben Jor - É, no meu disco "Músicas para Tocar em Elevador" (97),
gravei "Charles Jr." com a Nação
Zumbi, já era toda soturna, tipo
"Maracatu Atômico". É um estilo,
eles sentem quando cantam.
"Oba, Lá Vem Ela" (70) tem
uma gravação bonita do Charlie
Brown Jr., eles são meus amigos.
Bato papo com todo esse pessoal
mais novo, eles gostam do meu
som. Há coisas que fazem que eu
gostaria de ter feito.
JORGE BEN JOR - Show de apresentação
do disco "Reactivus Amor Est (Turba
Philosophorum)". Onde: DirecTV Music
Hall (av. Jamaris, 213, Moema, tel. 0/xx/
11/6846-6040). Quando: sexta (dia 22) e
sábado (23), às 22h. Quanto: R$ 40 a R$
100 (no DirecTV Music Hall, Teatro Abril e
livrarias Fnac e Saraiva Megastore).
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