|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEMINÁRIO
Socióloga Vera Zolberg abre evento na quarta com palestra sobre criação da identidade a partir do ato de consumir
Encontro discute prazer, consumo e arte
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pode existir algo em comum entre adolescentes que jogam videogames e apreciadores de pintores
impressionistas como Pierre Auguste Renoir (1841-1919) e Claude
Monet (1840-1926)? Segundo a
socióloga norte-americana Vera
Zolberg, sim, mas por uma via, digamos, não convencional.
"Os colecionadores dos impressionistas, no século 19, especialmente na França, eram proprietários de grandes lojas de departamento, burgueses em ascensão,
no início do que se chama hoje de
consumismo, que buscavam o
novo como estilo de vida. Hoje, os
grandes colecionadores, ao menos nos EUA, estão vinculados à
indústria do entretenimento e da
informática, como os fabricantes
de games. Colecionam obras de
arte que valorizam a tecnologia,
portanto, geram uma nova forma
de percepção, da mesma forma
vanguardista exercida pelos impressionistas", disse por telefone,
à Folha, de Nova York, onde vive.
Na próxima semana, a socióloga é responsável pela abertura do
seminário "Modernidade, Cultura Material e Estilos de Vida",
promovido pelo Senac. Especialistas estrangeiros e brasileiros,
como Peter Burke, professor da
Universidade de Cambridge, na
Inglaterra, irão debater a influência da moda, das artes, do consumo, do prazer, do erotismo e do
turismo na sociedade contemporânea (veja quadro nesta pág.).
Cabe a Zolberg tratar "do triunfo do consumismo como criador
de identidade", segundo palavras
da própria palestrante. "Recentemente, estive na Bienal do Whitney [museu de Nova York], com
muitas obras, metade do que estava exposto, que demandavam interação e compostas por computadores. Todas as obras funcionavam e com boa manutenção, o
que não é comum nesse tipo de
mostra, e havia grande número de
jovens, muito mais do que eu
imaginava, o oposto do público
de um concerto ou uma ópera,
em geral idosos, o que mostra que
há um novo público para esse tipo
de produção", conta a socióloga
da cultura e da arte, professora da
New School University de Nova
York desde 83 e autora de diversos livros sobre arte.
Com isso, a socióloga revela
uma intrincada relação entre produção de arte e patrocínio, já que
grandes empresas da área de tecnologia estariam validando sua
forma de atuação por meio da arte, tanto em coleções como em exposições, como recentemente
ocorreu no festival sonarsound,
no qual uma empresa de telefones
celulares encomendou trabalhos
usando o aparelho que vende como suporte. Arte como propaganda? "Os reis já expunham suas
coleções para demonstrar poder.
Há uma linha tênue entre quem
mostra arte como manifesto social e quem a usa como propaganda, o que me parece o caso desse
tipo de festival, fenômeno que
tem sido muito criticado."
Sem ser apocalíptica, no entanto, Zolberg acredita que a presença de empresas de tecnologia na
arte tem também uma ressonância positiva, ao estar em diálogo
com a vida cotidiana: "Eu diria
que essa é a arte do presente e do
futuro, apesar de eu não poder
afirmar o que vem aí, mas esse tipo de arte apela a jovens profissionais de hoje, e eles são o futuro
da vida cultural".
Texto Anterior: Del Rey relê RC em ritmo de aventura Próximo Texto: Lançamentos/Dvd - Tarantino conta nascimento e influências de saga oriental: Kill Bill Vol. 1 Índice
|