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CRÍTICA
Cheiro de armação domina "Metamorphoses"
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
É péssimo para o espectador
que as outras emissoras metam tanto os pés pelas mãos ao
tentar concorrer com a Rede
Globo.
A Record fez uma barulheira
com a nova novela, exibiu trunfos como a direção de Tizuka Yamazaki, a participação dos escritores Mário Prata e José Louzeiro
na elaboração da trama e a presença de atores como Paulo Betti,
Joana Fomm, Miriam Muniz e
Gianfrancesco Guarnieri, mas, a
pouco mais de um mês da estréia, "Metamorphoses" parece
ter entrado em um processo de
entropia irreversível.
Mário Prata e José Louzeiro já
se mandaram faz tempo; Tizuka
também abandonou a novela; o
diretor do núcleo de teledramaturgia Del Rangel saiu da emissora e, na última semana, a equipe
técnica foi demitida em plena
gravação. O que transparece em
todos esses episódios é a mão-de-ferro da produtora Arlette Siaretta e sua (ao que parece) indomável vontade de fazer uma novela-marketing em torno das benesses da cirurgia plástica.
É uma outra nova modalidade
de ficção na TV esta novela cujo
esforço máximo é o de vender
uma idéia, uma atitude. Do slogan -"a novela que vai mudar
sua vida"- às declarações de
Siarettta, afirma-se e reitera-se a
naturalidade do recurso à cirurgia plástica. Auto-estima em baixa, troca de identidade, acidentes
graves: qualquer coisa parece ser
pretexto para o telespectador ser
submetido à cenas hiper-realistas em salas de cirurgia que deixam "ER" no chinelo.
Essa insistência cheira a uma
estranha obsessão pessoal da
produtora Siaretta, que entrou
em conflito aberto com Prata e
Louzeiro e criou uma identidade
misteriosa para a equipe de roteiristas anônimos que desenvolve
suas idéias, mas também sugere
uma enorme armação para incentivar (ainda mais) a noção de
que é ok fazer cirurgia plástica
em qualquer circunstância e,
mais ainda, que qualquer infelicidade se cura com um bisturi.
Claro, há uma certa tensão entre a personagem do mal, a ambiciosa e inescrupulosa Diana (Luciene Adami), e os mais criteriosos personagens do bem, a meio-irmã Lia (Vanessa Lóes) e o médico Lucas (Luciano Szafir), mas
em um roteiro tão precário
quanto é o de "Metamorphoses"
nem chega a se caracterizar um
confronto. De tão mal escritos,
nem se consegue perceber pelos
diálogos, que se constituem basicamente de frases soltas e rompantes de mau humor, quem defende o quê.
O que prevalece mesmo é a impressão causada pelas imagens
de narizes retalhados, que vão
perdendo o impacto por força da
repetição, e os "antes/depois"
que documentam a padronização estética -narizes considerados "bonitos", seios aumentados, rostos esticados- promovida por essa vertente quase que
sempre mercantilista da medicina e que encontrou em Siaretta e
sua "Metamorphoses" um poderoso instrumento de marketing.
biabramo.tv@uol.com.br
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