|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO
Programa pretende derrubar preconceitos sociais ao colocar jovens vivendo situações opostas às do seu dia-a-dia
"Reality show" confronta realidades
CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
Exemplos de como a televisão e
a mídia em geral podem, sim, gerar boas coisas para crianças e jovens não vão faltar na 4ª Cúpula
Mundial de Mídia para Crianças e
Adolescentes, que começa amanhã no Rio de Janeiro.
Serão quase duas centenas de
palestrantes que falarão sobre
qualidade da produção, relacionamento dos jovens com a mídia,
receitas de sucesso em programação. Estarão
presentes nomes como Dorothy
Prior, diretora da programação
infantil da rede BBC de Londres e
criadora de um canal específico
para crianças de três a seis anos, e
Arlene Klasky, criadora do desenho animado "Rugrats" ("Os Anjinhos"), sobre uma turma de bebês que virou sucesso de audiência e bilheteria no mundo inteiro.
Há até quem conseguiu produzir um "reality show" educativo,
como Dixie Feldman, diretora do
canal americano The N, braço da
rede Nickelodeon voltado para
adolescentes.
Ela é uma das criadoras de "A
Walk in Your Shoes" (Uma Caminhada nos Seus Sapatos), que não
dá prêmio em dinheiro nem a
chance de encontrar um marido,
mas tem como objetivo acabar
com preconceitos, dos participantes e, por tabela, da audiência.
"Nosso objetivo ao criar o programa era tirar preconceitos que
os adolescentes têm com quem é
diferente deles", disse Feldman à
Folha, por telefone, de seu escritório em Nova York. "Queremos
mostrar que o diferente não é necessariamente ruim."
"A Walk in Your Shoes" existe
desde 1999, mas tomou novo fôlego após os atentados terroristas
de 11 de setembro. "Os americanos começaram a nutrir um preconceito muito grande pelos árabes e mulçumanos em geral. Havia muita desinformação, que gerava discriminação", disse a diretora. "Então fizemos o programa
com uma menina cristã que passou a viver na casa de uma família
muçulmana."
"Vivendo com eles, ficando
amiga da menina muçulmana
que fazia parte da família, ela descobriu que tinha muitas idéias erradas sobre essas pessoas. E o público também pôde descobrir isso", diz Feldman.
O programa ainda levou um garoto norte-americano para viver
na Jordânia e um menino jordaniano para viver com uma família
norte-americana.
Deficiente físico
Mas nem só de diferenças culturais vive "A Walk in Your Shoes".
Em um dos episódios, um adolescente passa a conviver com um
garoto em cadeira de rodas -e,
para isso, também passa a se locomover em uma, tentar jogar basquete, pegar ônibus etc. Em outro, uma esbelta líder de torcida,
com a ajuda de maquiagem e de
uma roupa especial, "engorda"
muitos quilos para passar alguns
dias vivendo como alguém não
tão bonita e atraente quanto ela.
"A garota foi em um shopping e
começou a ver que recebia tratamento diferente, que algumas
vendedoras de lojas a ignoravam", afirma Feldman, que diz
que um de seus episódios preferidos é o que mostrou a vida de um
garoto portador do vírus HIV.
"Mostramos que uma pessoa infectada com o vírus pode levar
uma vida como qualquer outra."
Já houve até um episódio em
que um garoto negro, cantor de
rap, "vestiu os sapatos" de um
branco, cantor de country. "São
dois tipos que dificilmente iriam
andar juntos. Mas no final ambos
declararam que passaram a ter
muito mais respeito pelo tipo de
música do outro", conta.
Apesar do formato -colocar
pessoas comuns (e filmá-las) em
situações estranhas a elas, sem
atores e sem roteiro-, Feldman
reluta em classificar o programa
como um "reality show". "Nunca
pensei em "In Your Shoes" dessa
forma, pois os "reality shows" não
costumam acrescentar nada para
quem assiste."
Para ela, os canais de TV menosprezam os jovens ao achar que
o que eles querem assistir são apenas "novelinhas adolescentes só
com meninos e meninas lindos,
brancos e ricos, na qual fazem o
que querem e os pais nunca estão
por perto. Não têm os tipos de
problemas que os adolescentes
têm de verdade".
Texto Anterior: Griffith fixa normas com "Intolerância" Próximo Texto: Encontro discute mídia Índice
|