São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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Retrato em branco e preto

Três décadas após a chegada da TV em cores no Brasil, aparelhos em PB sobrevivem e viram objeto de culto

MARCELO BORTOLOTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Passados mais de 30 anos da primeira transmissão de TV em cores no país, ninguém percebe que, em pleno século 21, ainda haja muitos brasileiros vivendo na era do preto-e-branco.
O Levantamento Sócio Econômico realizado pelo Ibope em 2003 e divulgado no começo deste ano verificou a quantidade de televisores em PB em uso em seis capitais do centro-sul do país. O estudo mostrou que só na cidade de Porto Alegre, por exemplo, 6% dos domicílios possuem aparelhos em preto-e-branco. Ou seja, quase 70 mil residências.
O fato de a casa possuir um aparelho em PB não exclui a possibilidade de ter outro em cores. Mas dados do IBGE confirmam que ainda há muitos espectadores à moda antiga. Segundo o instituto, em 2002, cerca de 8,9 milhões de brasileiros tinham acesso apenas a televisores em preto-e-branco.
Desde 1997, os aparelhos em PB deixaram de ser produzidos no Brasil. A última fabricante foi a Philco, com os modelos PBA7, de 12 polegadas, e o PBA2, de 17 polegadas. Mas até hoje, em lojas de móveis usados, é possível adquirir um televisor em PB de segunda mão. Os preços variam de R$ 30 a R$ 100, dependendo do modelo e do estado de conservação.
Nas casas de antigüidades, algumas TVs consideradas relíquias chegam a valer até R$ 350.
Quem ainda persiste no sistema preto-e-branco encontra dificuldades em consertar seu televisor quando ele estraga. No Rio de Janeiro não existem mais técnicos que trabalhem com TVs a válvula. Algumas oficinas ainda reparam os aparelhos em PB, desde que sejam transistorizados.
A Lojas Chuá, localizada no bairro carioca da Lapa, compra e vende móveis usados e trabalha preferencialmente com televisores em PB. Para o vendedor Jorge do Patrocínio esses modelos são mais resistentes: "Geralmente, quando a gente vende uma TV em cores, o freguês no outro dia devolve, dizendo que já estragou. A em preto-e-branco não. Ela vai e não volta mais". Segundo ele, a procura por modelos em PB ainda é muito grande na região.
O vendedor José Rodrigues, que tem uma banca de objetos usados próxima à praça da Cruz Vermelha (centro do Rio), guarda sempre no estoque uma TV em preto-e-branco. "Tem gente que prefere porque toda a vida assistiu à TV assim e não se acostuma com a em cores", diz. Segundo ele, o aparelho em PB tem uma série de vantagens: "É uma televisão mais barata, que pega qualquer canal com imagem boa e vende bem".
Graças a essa audiência em PB, as emissoras também apostam nesse tipo de público. A TV Globo informa que investe em equipamentos de alta tecnologia para garantir compatibilidade total de seus programas com os vários modelos de televisores. Além disso, segundo a assessoria da emissora, durante a edição dos programas, o ajuste de brilho e contraste é feito por um monitor em PB e um em cores, de forma que as transmissões não se distorcem em nenhum tipo de aparelho.


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