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Retrato em branco e preto
Três décadas após a chegada da TV em cores no Brasil, aparelhos em PB sobrevivem e viram objeto de culto
MARCELO BORTOLOTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Passados mais de 30 anos da primeira transmissão de TV em cores no país, ninguém percebe que,
em pleno século 21, ainda haja
muitos brasileiros vivendo na era
do preto-e-branco.
O Levantamento Sócio Econômico realizado pelo Ibope em
2003 e divulgado no começo deste
ano verificou a quantidade de televisores em PB em uso em seis
capitais do centro-sul do país. O
estudo mostrou que só na cidade
de Porto Alegre, por exemplo, 6%
dos domicílios possuem aparelhos em preto-e-branco. Ou seja,
quase 70 mil residências.
O fato de a casa possuir um aparelho em PB não exclui a possibilidade de ter outro em cores. Mas
dados do IBGE confirmam que
ainda há muitos espectadores à
moda antiga. Segundo o instituto,
em 2002, cerca de 8,9 milhões de
brasileiros tinham acesso apenas
a televisores em preto-e-branco.
Desde 1997, os aparelhos em PB
deixaram de ser produzidos no
Brasil. A última fabricante foi a
Philco, com os modelos PBA7, de
12 polegadas, e o PBA2, de 17 polegadas. Mas até hoje, em lojas de
móveis usados, é possível adquirir
um televisor em PB de segunda
mão. Os preços variam de R$ 30 a
R$ 100, dependendo do modelo e
do estado de conservação.
Nas casas de antigüidades, algumas TVs consideradas relíquias
chegam a valer até R$ 350.
Quem ainda persiste no sistema
preto-e-branco encontra dificuldades em consertar seu televisor
quando ele estraga. No Rio de Janeiro não existem mais técnicos
que trabalhem com TVs a válvula.
Algumas oficinas ainda reparam
os aparelhos em PB, desde que sejam transistorizados.
A Lojas Chuá, localizada no
bairro carioca da Lapa, compra e
vende móveis usados e trabalha
preferencialmente com televisores em PB. Para o vendedor Jorge
do Patrocínio esses modelos são
mais resistentes: "Geralmente,
quando a gente vende uma TV
em cores, o freguês no outro dia
devolve, dizendo que já estragou.
A em preto-e-branco não. Ela vai
e não volta mais". Segundo ele, a
procura por modelos em PB ainda é muito grande na região.
O vendedor José Rodrigues, que
tem uma banca de objetos usados
próxima à praça da Cruz Vermelha (centro do Rio), guarda sempre no estoque uma TV em preto-e-branco. "Tem gente que prefere
porque toda a vida assistiu à TV
assim e não se acostuma com a
em cores", diz. Segundo ele, o
aparelho em PB tem uma série de
vantagens: "É uma televisão mais
barata, que pega qualquer canal
com imagem boa e vende bem".
Graças a essa audiência em PB,
as emissoras também apostam
nesse tipo de público. A TV Globo
informa que investe em equipamentos de alta tecnologia para garantir compatibilidade total de
seus programas com os vários
modelos de televisores. Além disso, segundo a assessoria da emissora, durante a edição dos programas, o ajuste de brilho e contraste
é feito por um monitor em PB e
um em cores, de forma que as
transmissões não se distorcem
em nenhum tipo de aparelho.
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