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ANIMAÇÃO
Em passagem pelo Brasil, Tim Hill fala sobre a esponja de cozinha animada que vive no fundo do mar
Roteirista revela o DNA de Bob Esponja
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele não é só uma esponja de cozinha amarela que gosta de usar
cuecas apertadas, trabalha como
ajudante no restaurante Siri Cascudo e guarda um caramujo de
estimação no banheiro do abacaxi
que chama de casa, na pequena e
submarina Fenda do Biquíni.
Desde a sua estréia na TV, cinco
anos atrás, "Bob Esponja Calças
Quadradas" é um fenômeno cultural. Criado por Steve Hillenburg
e Tim Hill, o desenho animado,
que no Brasil é exibido pela Globo
e Nickelodeon, conquistou milhões de telespectadores da Lituânia às Filipinas e estampou a cara
de seus personagens em centenas
de produtos, desde camisetas e
bonecos de borracha até travesseiros e cadeiras de praia.
Por aqui, onde não se passa pelos cruzamentos de grandes cidades sem se deparar com ele pendurado nos ombros dos ambulantes, Bob Esponja virou até música do funkeiro MC Buchecha:
"Feinho, baixinho, miudinho,
cha cha cha / Diz que se pã, se
marcar, vai pegar / Moleque fanfarrão, mor caô, pega ninguém /
Pensa que é cascudo, mas no fundo é um neném / Bob Espooonja".
De volta às superproduções, o
personagem ganha, em novembro deste ano, seu primeiro longa-metragem nos cinemas. No
Brasil, a estréia está programada
para 17 de dezembro.
Também um dos roteiristas do
filme, o escritor norte-americano
Tim Hill, que veio ao Brasil para
uma série de workshops de roteiro dentro do festival Anima Mundi, falou à Folha sobre o personagem, agora mais por cima que
snorkel de mergulhador.
Folha - Como surgiu a idéia de
transformar uma esponja de cozinha em um herói de desenho?
Tim Hill - A idéia foi de Steve Hillenburg. Ele é surfista e estudou
biologia marinha na faculdade.
Acho que ele sempre quis fazer
um programa sobre o oceano, em
que o personagem principal fosse
inocente, positivo e criativo. Minha parte era ajudá-lo a trazer as
idéias para a página escrita, porque na época Steve era mais um
artista visual do que um escritor.
Folha - Um dos trunfos de Bob Esponja é o roteiro, repleto de diálogos ao mesmo tempo inteligentes
e ingênuos. Quais foram as influências para chegar até aí?
Hill - São muitas. Discutimos o
personagem Cândido, de Voltaire, como um modelo, no início.
Autores de filmes mudos também
afetaram, como Buster Keaton,
Harold Lloyd, Charlie Chaplin,
W.C. Fields... Eles também criaram personagens ingênuos e geralmente alheios ao aspecto cínico
do mundo em que vivemos.
Folha - Grande parte das produtoras hoje aposta na animação por
computador. "Bob Esponja", por
outro lado, segue a animação tradicional em 2D. Quais são os prós e
contras dessa opção?
Hill - Infelizmente, o 3D é tanto
um modismo quanto um avanço
tecnológico. Há muitos produtores de Hollywood correndo por aí
usando a palavra "3D" como se
realmente soubessem o seu significado. Não é que o conceito de 3D
seja difícil, mas suas qualidades
são geralmente destacadas por retardados. Precisamos passar esse
momento de "Oh, meu Deus, e
tudo isso foi feito num computador". Bem, você ainda pode fazer
um cocô em um computador.
Folha - O que acharia se de repente resolvessem adaptar Bob Esponja para um formato 3D?
Hill - Seria como transformá-lo
em um rapper com dente de ouro
vivendo "na área" da Fenda do Biquíni. E, acredite, essa idéia já foi
sugerida. Mas, fora essa coisa de
moda, acho o 3D interessante.
Certas companhias fazem um ótimo trabalho com animação em
3D, especialmente os curtas. Apesar de todo o seu charme, Shrek
ainda me parece um modelo de
computador, do mesmo jeito que
o peixe de "Procurando Nemo".
Ainda que sejam tecnicamente
perfeitos, não sinto "a mão do artista" trabalhando ali. Há boa animação, mas para no máximo dez
minutos de filme.
Folha - Seguindo esse raciocínio,
como foi adaptar o conceito do seriado para o de longa-metragem?
Hill - É muito difícil fazer um
longa animado. Honestamente,
me chateio com a maioria deles, a
não ser os irreverentes como o do
"South Park". Com Bob Esponja,
não estávamos lidando realmente
com um roteiro. Sentávamos em
volta de uma grande mesa com
um monte de escritores e artistas
e conversávamos sobre o filme,
cena a cena. Tudo muito tedioso.
Talvez tenha sido por isso que jogamos tanto pingue-pongue entre uma reunião e outra.
BOB ESPONJA CALÇAS QUADRADAS.
Onde: Globo, seg./sex., a partir das 9h25.
Nickelodeon, seg./sex., às 12h30; seg./
qua., às 19h30; dom., às 10h.
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