|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lenora de Barros brinca com o tempo em mostra
A identidade e a palavra também são temas da exposição que tem abertura hoje
Em "Temporália", na galeria Millan, em São Paulo, a artista cruza linguagens, como vídeo, fotografia e instalação
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Bolinhas de pingue-pongue,
ponteiros de relógio, tampas de
alçapões e um jogo de palavras
são elementos prosaicos que viram a matéria-prima da poética
de Lenora de Barros, que elegeu o tempo como o eixo de sua
nova exposição na galeria Millan, em São Paulo. "Temporália" tem abertura hoje, às 20h.
Por meio de linguagens e suportes diversos -como a instalação sonora, a fotografia e o vídeo-, a artista, além da discussão sobre o tempo, continua em
sua pesquisa a respeito de temas com os quais vêm trabalhando desde o início de sua
carreira, no final dos anos 70,
como a identidade e a palavra.
"Temporália" tem como uma
de suas principais atrações a
instalação "Quanto Tempo o
Tempo Tem", que coloca o espectador em uma cabine retangular de vidro ouvindo uma
performance vocal que vai de
um tom violento, logo no início,
a momentos mais calmos, mas
sempre com uma tensão presente.
"Usei uma brincadeira de
criança sobre o tempo e fui retrabalhando essa frase, inclusive com participação da minha
mãe [Electra Barros, mulher de
Geraldo de Barros, pai de Lenora]", conta.
"Quanto Tempo..." foi colocada na sala principal da galeria
próxima a outra obra, também
em formato retangular. No teto
e no piso da galeria, a artista fixou uma tampa de sótão e outra
de alçapão. "Ambas as portas
estão fechadas com cadeado e o
desenho do espaço entre elas é
apenas imaginado por quem as
observa", explica Lenora.
Jogos visuais
Outra obra inédita é o vídeo
"Tempinho", no qual a artista,
com uma pinça, começa a fazer
brincadeiras visuais com diminutos ponteiros de relógio, lidando com o acaso e até criando formas mais figurativas, parecidas com pássaros.
O tema da identidade é forte
em uma série de quatro fotografias da língua de Lenora,
realizadas em quatro momentos (1979, 1990, 1994 e 2008),
com nítidas diferenças e que
dialogam com outra fotografia,
na qual a superfície lunar é
mesclada a uma obra retratada
por Man Ray. "Há uma conversa visual entre os dois trabalhos
e eles lidam com o tempo e suas
marcas, seus registros", diz.
A bolinha de pingue-pongue,
presente em diversas fases da
produção de Lenora, está em
"Devolução", objeto formado
por três pequenas caixas reunidas, com uma bolinha, e onde
está inscrita a frase "Devolver
para Lenora na Caixa ao Lado".
As palavras, com inúmeros
rearranjos e novos sentidos,
são a matriz do que Lenora chama de "placas". "Fiz uma pesquisa intensa para achar essas
palavras, que, colocadas nesse
contexto, criam novas leituras", afirma a artista, que foi
uma das curadoras de grande
exposição sobre a poesia concreta no ano passado, no Instituto Tomie Ohtake. "É provável que se veja alguma referência à poesia concreta na mostra.
Mas, na verdade, são alusões
muito básicas, quase infantis,
ao que se tornou conhecido como poesia concreta."
TEMPORÁLIA - LENORA DE BARROS
Quando: abertura hoje, às 20h; de seg.
a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às
17h; até 16/7
Onde: galeria Millan (r. Fradique Coutinho, 1.360, tel. 0/xx/11/3031-6007)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Baseada em livro, peça sonda universo de um jovem autista Próximo Texto: Artes plásticas: Programação da 28ª Bienal começa hoje com debate Índice
|