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DVD
Caixa abrange quatro longas e um documentário com curiosidades; filme de Tim Burton sobre diretor também é lançado
Coleção revela o melhor do pior de Ed Wood
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Adeptos do quanto melhor
pior saem a campo com freqüência para afirmar que Edward
D. Wood Jr. (1924-1978) não só
não é o pior diretor de todos os
tempos como é, provavelmente,
um dos melhores. "Um gênio",
como sustenta alguém em "Discos Voadores sobre Hollywood".
O documentário acompanha
"Plano 9 do Espaço Sideral" e faz
parte da caixa com quatro discos
lançada pela Continental e dedicada ao diretor, produtor, ator e
roteirista que outro filme, "Ed
Wood", de Tim Burton, tornou
conhecido mundialmente.
Visto por Burton, Wood é um
sujeito dinâmico, sincero, dotado
de uma vontade enorme de dizer
algumas coisas em celulóide e de
um amor acentuado pelo cinema.
Um sujeito com coragem bastante para trazer à tela um drama íntimo como seu gosto por vestir
roupas femininas ("Glen ou Glenda") e com coração grande o bastante para amparar Bela Lugosi
em seu dramático final de vida.
Mais do que isso, porém, Burton opõe-se à fama que lhe colaram certos críticos de "pior cineasta do mundo". Sejam quais
forem os defeitos de seus filmes,
eles são dotados de uma paixão e
de uma pessoalidade que parecem bastar para justificá-los. Não
há como compará-lo, nesse nível,
ao artesão que vende seu trabalho
para o estúdio fazendo o filme que
lhe mandam. Isso não. Ed Wood
era seu próprio patrão.
Ou quase isso, pois são imensas
as dificuldades nessa indústria. E
tome Ed Wood sendo batizado
para agradar à comunidade religiosa que vai lhe financiar um filme, ou contratando uma atriz
porque ela se dispõe (ou ele pensa
assim) a pagar para ficar com o
papel. A lista é interminável.
"Ed Wood" é um ótimo filme
não só porque Ed Wood é um ótimo personagem, mas também
pela defesa que faz da pureza cinematográfica de Ed contra os
críticos agentes da indústria.
"Discos Voadores" trará algumas
curiosidades, como a verdadeira
Vampira, entre outros.
De todo o pacote, o mais árduo
são os filmes de Ed: além de "Plano 9" e "Glen ou Glenda", inclui
"A Noiva do Monstro" e o menos
célebre "A Face do Crime".
Todos trazem alguma curiosidade, em geral pelo lado mambembe da coisa. "A Noiva do
Monstro", por exemplo, traz a luta de homens contra um polvo de
borracha cujos tentáculos o próprio ator precisava agitar. Já "Plano 9" é aquele em que Ed Wood
concebeu a gambiarra de criar um
filme para Bela Lugosi depois que
Lugosi havia morrido, apenas para aproveitar os poucos planos
dele que tinha já rodados.
E por aí vai. O essencial: Ed
Wood não é apenas um cineasta
de filmes pobres. É também um
mau cineasta. Enquadra mal quase sempre, é um roteirista medíocre, seus filmes aspiram à convencionalidade, embora sejam quase
sempre mal-ajambrados.
No entanto, com freqüência, alguma qualidade (eventualmente
negativa) sobressai o bastante para tirá-lo da esfera do medíocre.
Há grandeza em Ed Wood, nem
que seja pelas grandes besteiras.
Dessa grandeza é que "Ed Wood"
dá conta, melhor do que seus filmes, embora não a esgote. Mesmo que para se encher, é preciso
ver um deles, ao menos uma vez.
EDWARD D. WOOD JR. - O PIOR DE
TODOS. Coleção com "Glen ou Glenda"
(53), "A Face do Crime" (54), "A Noiva do
Monstro" (55) e "Plano 9 do Espaço
Sideral" (59). Distribuidora: Continental.
Quanto: R$ 160, em média.
ED WOOD. Direção: Tim Burton.
Produção: EUA, 1994. Distribuidora:
Buena Vista. Quanto: R$ 45, em média.
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