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TURISMO CULTURAL
Sala São Paulo e Pinacoteca estão no roteiro de grupos e excursões
"Migrantes" engrossam renda de eventos e casas paulistanas
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"O melhor de tudo é que você
desce do ônibus na porta do teatro, vai jantar e depois o ônibus te
leva para dormir em casa."
A casa da professora aposentada Arilza Camargo Pacheco, 66,
fica em Itapira, a 170 km de São
Paulo. Vestindo um blazer chinês
com detalhes em dourado, ela
embarcou com cerca de 40 colegas, num sábado de maio, para assistir ao musical "Chicago" no
teatro Abril, na Bela Vista.
Outros endereços da cidade, como o Masp, a Pinacoteca, as casas
de shows Tom Brasil e a Sala São
Paulo também recebem grupos
do chamado "turismo cultural".
No Masp, no Tom Brasil e no
teatro Abril, por exemplo, segundo responsáveis pelo atendimento, as excursões equivalem a cerca
de 30% do público. E aí não entram os grupos de estudantes que
normalmente visitam essas instituições durante a semana. O turismo cultural demonstra mais fôlego de sexta a domingo.
Segundo o diretor da divisão de
teatro da CIE Brasil, Jorge Takla, o
espectador típico desses grupos
são idosos de classe média e profissionais liberais. Em alguns casos, quando o passeio dura mais
de um dia, entram na agenda outros itens da programação da cidade. Foi o que fez um grupo do
Rio organizado pela agência de
Moisés Zajler.
O ônibus chegou ao hotel às
13h30. Duas horas depois, o grupo já estava no Centro Cultural
Judaico para ver uma exposição.
À noite, foi a "Chicago". No dia
seguinte, foram à mostra "Picasso
na Oca", assistiram a um concerto
da Osesp na Sala São Paulo e ao
show do bandolinista Hamilton
de Holanda no Sesc Pompéia.
No domingo, após o café da manhã, concerto da pianista Valdilice de Carvalho no Museu da Casa
Brasileira. Após o almoço, o retorno para o Rio. A viagem custou
R$ 650 a cada um dos 35 participantes, com hospedagem, parte
da alimentação e ingressos.
"As pessoas ficam entusiasmadas com a diversidade da agenda
sugerida, mesmo quando não
têm propriamente um tempo livre para passear", diz Zajler, 67.
Para a secretária estadual da
Cultura, Cláudia Costin, 47, a elite
brasileira não associa o turismo à
cultura aqui no Brasil. "Quando
viaja ao exterior, nossa elite vai a
museus importantes, assiste a
concertos, mas quando vem a São
Paulo, ela raramente freqüenta
espaços que são referência no
continente, como a Pinacoteca."
Casar o turismo de negócios
com o turismo cultural tem sido
uma das preocupações do setor
na cidade, diz o presidente da
Anhembi Turismo e Eventos, Celso Marcondes. Segundo dados do
órgão, 66,8% dos visitantes vêm a
trabalho; 17,8% por outros motivos (saúde, estudos, visita a parentes); 15,4% por lazer. "Queremos que o profissional de negócios fique mais dias por conta da
oferta de entretenimento cultural,
gastronômico, esportivo etc."
A movimentação, que tende a
crescer, desperta atenção para o
problema do trânsito, diz Marcondes. A concentração de ônibus ou vans no entorno desses espaços, cujos estacionamentos vizinhos raramente comportam
veículos para transporte coletivo,
tornou-se item obrigatório a ser
tratado por quem encabeça os
grupos e por quem os recebe.
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