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Para autora, noticiário e propaganda são "vilões"
Bia Rosenberg defende que crianças pequenas não devem assistir a telejornais
Escritora critica a veiculação de publicidade durante a programação infantil, prática adotada inclusive pela Cultura, onde trabalha
DA REPORTAGEM LOCAL
"Como fica a cabeça da criança que vê no telejornal a cobertura dramática do acidente da
TAM e sabe que seu pai vai pegar um avião no dia seguinte?"
Bia Rosenberg, autora de "A
TV que Seu Filho Vê", defende
que crianças em idade pré-escolar não devem assistir a telejornais. "As imagens e a narrativa são muito impactantes, e
elas ainda não têm condição de
relativizar a informação", diz.
A psicóloga Rosely Sayão, colunista da Folha, acredita que,
nessa idade, os pequenos ainda
"não têm recursos para lidar
com os dados de realidade". "É
só observar o impacto negativo
que as notícias sobre os assassinatos da Isabella [Nardoni] e
do menino João Roberto, do
Rio, tiveram sobre as crianças."
O pediatra Oswaldo Cudízio
Filho, professor da Faculdade
de Ciências da Saúde, também
acha que os pequenos devem
ser poupados das grandes tragédias, mas pondera sobre o
não-acesso dos pré-escolares a
noticiários. "É bom avaliar a
maturidade de cada criança."
Rosenberg considera que
após os sete anos já se pode ver
telejornais, de preferência com
os pais, que devem conversar
sobre as notícias. Os filhos podem ser provocados a pensar
sobre como o noticiário é feito.
Propaganda
A autora também é contrária
à veiculação de publicidade na
programação infantil, que "incentiva precocemente o consumismo". E, desde pequenas,
diz, as crianças devem ser informadas de que os anúncios
têm o objetivo de vender. Diretora de infantis na Cultura por
20 anos, a autora admite: "Acabar com a propaganda pode ser
uma ameaça à produção para
crianças. Mas é preciso buscar
alternativas, como transferir
fundos da propaganda em horário adulto para os infantis".
Apesar de ser uma TV majoritariamente mantida pelo Estado, a Cultura coloca em sua
programação propagandas que
estão nas TVs comerciais. Procurada pela Folha, a assessoria
da rede afirmou que "a Fundação Padre Anchieta [que administra a Cultura] sempre adotou uma postura diferente do
mercado com relação à publicidade infantil e respeita preceitos estabelecidos pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente".
Também está "reduzindo gradativamente a publicidade voltada às crianças" e o número de
intervalos, com "veiculação só
entre um programa e outro".
A restrição à publicidade infantil é defendida por projeto
de lei em discussão no Congresso. Para a Abap (Associação Brasileira de Agências de
Publicidade), ele é "inconstitucional", pois o "Estado só pode
legislar sobre publicidade de
bebidas alcoólicas, medicamentos, tabaco, terapias e
agrotóxico". "E quem pagará a
produção de infantis? Essa senhora [Rosenberg] está propondo novo modelo de negócio, talvez que se aumente o
preço de assinaturas da TV paga ou se cobre pela aberta", ironiza Dalton Pastore, presidente da Abap. A Abert, associação
de TVs, diz que a restrição iria
inviabilizar financeiramente a
produção de programas infantis e que a publicidade já é auto-regulamentada pelo Conar.
Truque
Uma das críticas mais contundentes de "A TV que Seu Filho Vê" é às novelas das sete da
Globo. "Usam o truque, um golpe, na verdade, de criar núcleo
com crianças para atrair ibope
infantil, e as tramas têm temática adulta", afirma Rosenberg.
O livro cita pesquisa da Unicamp que contabilizou 900 beijos do protagonista de "Kubanacan" (2003) em 30 parceiras
diferentes. Para a autora, isso
estimula a prática de "ficar com
várias pessoas".
A Globo rebate: "Infelizmente, o Brasil vive uma escalada
contra a liberdade de expressão. A tal ponto que até uma comédia nonsense está sujeita a
patrulha. Vale registrar que essa postura moralista é ainda
mais sem sentido porque nossa
programação passa, compulsoriamente, por classificação indicativa e porque cremos que,
por mais qualificada que seja a
autora, os pais-cidadãos são capazes de escolher o melhor para seus filhos".
(LAURA MATTOS)
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