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análise
Obras de Cildo desafiam os sentidos
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao estampar em notas de
dinheiro a pergunta "Quem
Matou Herzog?", uma referência ao assassinato do jornalista Wladimir Herzog, então divulgado como suicídio,
nos porões da ditadura, em
1975, Cildo Meireles, em tática de guerrilha, reunia vida e
arte. Nas décadas de 60 e 70,
a produção artística brasileira, capitaneada por Hélio Oiticica e Lygia Clark, procurava novos caminhos para a arte que retirassem o espectador de uma posição passiva.
Cildo é um dos mais importantes protagonistas dessa proposta, obtendo reconhecimento desde cedo. Já
em 1970, tomou parte, junto
com Oiticica, Artur Barrio e
Guilherme Vaz, da histórica
mostra "Information", no
MoMA de Nova York, com
curadoria de Kynaston
McShine, apresentando "Inserções em Circuitos Ideológicos", série que posteriormente englobaria também o
caso Herzog.
Na época, as notas carimbadas tornaram-se malditas.
Ninguém queria uma frase
subversiva na carteira, fazendo com que o dinheiro
chegasse a sair de circulação.
A ação artística, nesse caso,
não deixava o espectador em
mero ato contemplativo.
O caráter político e envolvente vai seguir o percurso
de Cildo. Suas obras vão continuar desafiando os sentidos, seja criando um mar só
de livros, como "Marulho"
(1997), seja materializando a
exploração das missões jesuíticas no sul do país, como
"Missão/Missões" (1987), na
qual 600 mil moedas ascendem por uma fileira de hóstias criando um céu de ossos.
Uma de suas ações recentes de maior repercussão foi
se recusar a participar da 27ª
Bienal, que havia reeleito
Edemar Cid Ferreira entre
seus membros, acusando a
instituição de "gangsterismo
cultural". Ferreira acabou
sendo banido, mas Cildo não
participou do evento.
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