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ANÁLISE
Novo superspetáculo só terá êxito com ícones
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Ninguém faz superproduções históricas para falar do
passado. Quando os italianos faziam "Cipião, o Africano", na década de 30, era com o objetivo de
reencontrar as glórias de seus antepassados e reeditá-las, se possível, no continente africano, que,
naquele momento, tentavam colonizar.
Quando Sergei Eisenstein realiza "Alexandre Nevski", também
na década de 30, não é para glorificar o czar que expulsa os Cavaleiros Teutônicos de seu território, mas para conclamar a nação
soviética a resistir aos blindados
de Adolf Hitler.
Na Hollywood do pós-guerra,
as superproduções são, com bastante freqüência, associadas ao
anticomunismo, e possuem a virtude de colocar no mesmo plano
judeus e cristãos, isto é, de observar uma cultura judaico-cristã
que estaria ameaçada pelo materialismo.
Adoradores de imagem
O materialismo é, na maioria
das vezes, representado por romanos, egípcios e bárbaros de
forma geral: ou seja, os povos politeístas acabavam reduzidos a
adoradores de imagens -o que
existia à mão de mais próximo do
ateísmo.
Nem só de ideologia esses filmes
eram feitos. A corrida de bigas de
"Ben Hur", a imagem de Moisés
abrindo o mar em "Os Dez Mandamentos", a longa fila de cruzes
em "Spartacus" são momentos
capitais da idéia de espetáculo tal
como cultivada em Hollywood:
algo que nos impressiona, nos
aplastra e ao mesmo tempo nos
arrebata.
À medida que a Guerra Fria arrefece, e o Vietnã toma seu lugar,
nos anos 60, os espetáculos históricos caem de moda. São evocados por um Jean-Luc Godard
("Eu te Saúdo, Maria"), por um
Martin Scorsese ("A Última Tentação de Cristo"), em chaves de
um modo ou de outro iconoclásticas, nos 80.
Nova onda
Pode ser que uma nova onda esteja se insinuando agora, primeiro com o "Gladiador" de Ridley
Scott, agora com essa investida de
Mel Gibson. Pode ser.
Mas o novo superespetáculo só
será espetacular mesmo quando
consagrar seus ícones: um Cecil B.
DeMille, que tenha a capacidade
de unir o mais sacro e o mais profano (ou o mais santo e o mais devasso), um Charlton Heston com
seu ar bíblico, uma Jean Simmons, a indefectível romana convertida aos bons.
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