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Repórter busca anônimos na guerra
Documentário de neto de Buñuel mostra a vida de pessoas em meio ao conflito entre Israel e palestinos
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Difícil ser original quando o
assunto é o conflito entre palestinos e israelenses, que se arrasta há 60 anos numa overdose de notícias e versões.
Em busca de um olhar novo
sobre a disputa, o correspondente de guerra Diego Buñuel,
neto do cineasta Luis Buñuel,
mergulhou no cotidiano da
Terra Santa para captar os aspectos mais inusitados da (sobre) vida humana na região.
O resultado é o documentário "Zonas de Guerra: Terra
Santa", que vai ao ar hoje à noite no canal National Geographic, encerrando uma série que
acompanhou os passos de Buñuel em cinco países, incluindo
Afeganistão, Colômbia e Coréia
do Norte.
Considerado por alguns críticos como o melhor da série, o
capítulo que tem o Oriente Médio como tema retrata com sutileza e humor -e sem tomar
partido- a vida que se desenvolve na região longe dos clichês do noticiário de massa.
O foco do documentário,
construído como um "road movie" bem ritmado, está nas pequenas histórias anônimas e no
absurdo tragicômico de um
dia-a-dia que transcende a
guerra.
O condutor da trama é o próprio Diego Buñuel, que aparece
em praticamente cada tomada,
contextualizando suas andanças em linguagem despojada ou
trocando figurinhas com a população local.
Em Gaza, Diego Buñuel apresenta figuras como o empresário Rashid, que ganha a vida imprimindo cartazes dos mártires
locais, e os MCs Hamed e Nazim, que animam as noites da
juventude cantando em árabe
um melancólico rap de gueto.
A poucos quilômetros dali,
ele relata o pânico permanente
dos moradores de Sderot, cidadezinha israelense que é alvo
constante dos mísseis palestinos Qassam -ao menos três
por dia caem no local, onde até
os pontos de ônibus têm abrigo
antiaéreo.
Em Hebron, Buñuel acompanha um passeio turístico de israelenses que nunca haviam pisado em solo palestino. Na pequena Taybeh, enclave cristão
perto de Ramallah, o jornalista
visita a primeira e única fábrica
de cerveja palestina.
E nos confins da Cisjordânia
ocupada, o jornalista descobriu
Lucy Fensom, uma ex-aeromoça inglesa que cuida de asnos
maltratados pela guerra.
Com apenas 33 anos, Buñuel,
que diz só ter recebido do ilustre avô ensinamentos sobre a
vida dos insetos e o tiro com
pistola (!), revela talento para
um jornalismo humanista cada
vez mais escasso.
Sem ceder ao sentimentalismo, "Terra Santa" diverte e esclarece, provando que tragédias também podem ser tratadas com leveza.
ZONAS DE GUERRA: TERRA
SANTA
Quando: hoje, às 21h
Onde: no National Geographic
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