São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008 |
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BIA ABRAMO "9MM" é ótimo policial à brasileira
AVENIDA M'BOI Mirim. As vítimas em um carro, os bandidos em outro. Pelo celular, os policiais tentam acalmar as vítimas: um pastor e uma menina de 11 anos. "Agüenta firme, que estamos chegando". Ao que o pastor, apavorado, retruca: "Não tem viatura na área?". Silêncio. O delegado incentiva: "Já estamos perto". E o pastor: "Não vai dar, meu carro é uma m...". Segundos depois, o carro caindo aos pedaços do pastor pede arrego; os dois têm de fugir a pé. A perseguição é uma cena, talvez das mais eloqüentes, da nova série da Fox, "9MM: São Paulo". À tensão de uma perseguição convencional entre mocinhos e bandidos, soma-se a precariedade brasileira: a viatura mais próxima está a quilômetros de distância, o cara do bem é capaz do gesto heróico, mas seus recursos são limitadíssimos pela pobreza. Os desafios de "9MM: São Paulo" são gigantescos. Em primeiro lugar, há que transplantar para o Brasil o padrão de roteiro do seriado norte-americano: cada episódio fecha uma história, ao mesmo tempo em que começa a desenvolver a médio e longo prazo várias tramas. Em segundo lugar, fazer uma transposição do espírito das séries policiais do tipo "Nova York contra o Crime" para a polícia brasileira. Ora, mesmo com o toque mais realista das séries contemporâneas, elas sempre redundam em eficiência, criminoso descoberto, crime punido, justiça no horizonte etc. Aqui, essa perspectiva é quase fantasiosa e, portanto, qualquer tentativa pouco inteligente de fazer essa transposição fatalmente dará com os burros n'água. Por último, há a resistência do público seriemaníaco, tão exigente com o produto "nacional" como condescendente com o produto importado, numa atitude cuja arrogância trai um provincianismo também ele muito sintomático da nossa precariedade. Por ora, dá para dizer que "9MM: São Paulo" se sai muito bem dos dois primeiros. O roteiro é consistente como poucos. Da mesma forma, há um equilíbrio entre a convenção da série policial e a tentativa honesta de construir personagens necessariamente ambíguos à lei e à ordem. Por aqui, estão de mãos dadas com o privilégio, a corrupção, o clientelismo, o apadrinhamento, o favor etc. Mesmo com dois episódios exibidos, dá para afirmar, fácil, que "9MM: São Paulo", junto com "Antônia" e "Carnaval", é das melhores experiências em série já feitas no Brasil. Os narizes torcidos que fiquem com a mediocridade da grande parte do que mandam para cá. biabramo.tv@uol.com.br Texto Anterior: Resumo das novelas Próximo Texto: Televisão/Crítica: Grandeza orienta "Leopardo", de Visconti Índice |
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