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Humor passado a limpo
Livro de desenhista pernambucano contesta data de publicação da primeira charge feita no Brasil
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Rebuliço nas artes gráficas. Um
desenhista pernambucano quer
passar a borracha na história do
humor gráfico brasileiro. Para
Lailson de Holanda, 51, a primeira
charge publicada no país, atribuída a Manuel de Araújo Porto-Alegre, não é exatamente a primeira
charge publicada no país.
A tese de Holanda, chargista do
"Diário de Pernambuco", sustenta que, seis anos antes do aparecimento de "A Campainha e o Cujo", considerada a pioneira, datada de 1837, o periódico pernambucano "Carcundão" já publicava
desenhos de humor criticando a
igreja e defensores da monarquia.
Resultado de uma pesquisa encomendada pela Universidade de
Alcalá de Henares, na Espanha, o
argumento abre o livro "Historia
del Humor Gráfico en Brasil", que
será lançado em outubro pela espanhola Editorial Milenio e não
tem data de publicação por aqui.
Defendida pela primeira vez pelo pesquisador Alfredo de Carvalho, em 1908, a primazia histórica
do "Carcundão" havia sido solenemente descartada pelo escritor
Herman Lima, autor dos quatro
volumes que são considerados até
hoje a bíblia do humor gráfico tupiniquim, "A História da Caricatura no Brasil", de 1963.
Para ele, o "Carcundão", que teve só três edições de autoria desconhecida entre abril e maio de
1831, "é um jornalzinho sem
maior importância", cuja "única
ilustração é uma vinheta xilogravada, com um burro corcunda
derrubando a coices uma coluna
grega. Como expressão caricatural, é absolutamente nulo".
"[Herman Lima] A descreve de
maneira tão errada que com absoluta certeza nunca a viu com
seus próprios olhos", rebate agora
Lailson. "Se considerarmos que a
palavra caricatura é utilizada, na
maior parte das vezes, como sendo qualquer tipo de desenho em
que a realidade está representada
de forma humorística e alegórica,
com intenção de crítica política
ou social, então os desenhos de
"Carcundão" são, efetivamente, as
primeiras expressões de humor
gráfico na imprensa brasileira."
"Este tipo de polêmica é inútil ",
rebate Heliana Angotti Salgueiro,
curadora da exposição "A Comédia Urbana: De Daumier a Porto-Alegre", montada no ano passado
em São Paulo, na Faap. "Dentro
de uma metodologia científica,
não se pode defender que essa
obra ou aquela foi a "primeira" em
nenhuma área do conhecimento.
Nunca se deve fechar a questão.
As pesquisas avançam."
E completa: "[Os desenhos do
"Carcundão'] Aproximam-se
mais das vinhetas francesas tipográficas. Porto-Alegre vivenciou o
universo da caricatura da primeira metade do século 19 na França
e tudo indica que adquiriu um nível de informação que outros no
Brasil certamente não tinham".
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