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"Em Nova York, nem a amizade
é gratuita"
EMILIE GRANGERAY
DO "MONDE"
O rosto dela mostra irritação.
Sentada a uma mesa diante de
uma salada de endívias e um
cálice de vinho branco, ela nos
recebe, irritada por nossos 15
minutos de atraso, com um
"vou logo avisando: dentro de
meia hora tenho de ir embora".
O encontro acontece em um
clube privado muito elegante, o
SoHo House, que Candace
Bushnell e escritores como Jay
McInerney e Bret Easton Ellis,
seus grandes amigos, freqüentam regularmente. Ela termina
por ficar duas horas, "feliz e aliviada", diz, por encontrar alguém que não lhe pergunta a
marca de seus sapatos, cabeleireiro, mas opta por julgá-la pelo que é: uma escritora.
Nascida em 1958 em Glastonbury, Connecticut, Bushnell é a
mais velha de três filhas. Seu
pai é engenheiro aerospacial e
sua mãe, dona de uma corretora de imóveis. Após diplomar-se em jornalismo, escrevia artigos para jornais e revistas e
produzia literatura. "Mas meu
trabalho não era considerado
comercial. Foi um período sexista, com Norman Mailer,
Tom Wolfe e Don DeLillo."
Em 1994, o jornal "New York
Observer" a contratou como
colunista. Lá, passou a escrever
sobre o que se tornaria seu tema dominante: mulheres ricas,
bonitas e celibatárias que tentam se realizar em Nova York.
Dois anos mais tarde, as colunas foram reunidas num livro,
"Sex and the City". Carrie, seu
alter ego, observa costumes das
amigas e ritos da sociedade.
"Cupido fugiu dos arranha-céus", diz. "Aqui, o amor não é
importante; só o sexo." O cinismo, tingido de uma boa dose
de humor alcoolizado, triunfou. O livro, traduzido em cerca
de 30 países, se transformou na
série de sucesso na TV. Depois
de trabalhar como co-produtora na primeira temporada,
Bushnell se afastou. "Se quisesse me tornar roteirista, teria de
mudar para Los Angeles."
"Ser puro e inocente em Nova York, isso não existe mais.
Aqui, se paga por tudo, e tudo é
pago; nem mesmo a amizade é
gratuita. É a natureza humana,
afinal", diz. "Mas Nova York é
também a cidade de todas as
possibilidades; basta ser visto,
reconhecido, para existir."
Por muito tempo, serviu de
tema para as colunas de fofoca
porque, mesmo que esteja casada com um bailarino do New
York City Ballet, no passado
namorou figuras conhecidas,
como Bob Guccione, dono da
revista "Penthouse", o ex-senador Alfonse d'Amato e Ron Galloti, editor da revista "Vogue".
Tradução Paulo Migliacci
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