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TELEVISÃO
Fracasso de "Metamorphoses", que usou até "reality show" de cirurgia plástica, faz canal recriar novelão de época
Após piração, Record adota novela careta
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Das cenas reais de modernas cirurgias plásticas à paisagem bucólica de uma fazenda do século
19. Das perseguições de carros envolvendo a máfia japonesa à fuga
de escravos dos quilombos.
Nesta semana, a Record dá
adeus -em clima de "já vai tarde"- a "Metamorphoses", fracasso de audiência. A novela foi
lançada em março como "a grande revolução na teledramaturgia". A emissora propagava que a
história era ousada, a tecnologia,
inédita, e o esquema de produção,
inovador. Deu tudo errado, e o final foi antecipado (leia ao lado).
E a "nova" estratégia da Record
é optar pelo mais velho e batido
folhetim de época. Para a próxima
novela (estréia em 27/9, às 19h),
não só escolheu "A Escrava Isaura", versão do sucesso da Globo
de 1976/77, como abraçou um
"pacote feijão-com-arroz". Em
vez de terceirizar a produção (esquema testado em "Metamorphoses"), o canal voltou a montar
um núcleo interno de teledramaturgia. Para a direção da trama,
selecionou Herval Rossano, veterano na TV desde os tempos da
Tupi e diretor da "Escrava Isaura"
da Globo.
Da malsucedida experiência de
"Metamorphoses" (que "inovou"
até na grafia da palavra), ficaram
só as filmagens em alta definição.
A técnica, que dá à imagem qualidade de cinema, é a marca que a
Record pretende imprimir ao renascimento de sua dramaturgia.
Na emissora, o diagnóstico não
é exatamente de que "Metamorphoses" foi mal porque era "moderna" demais para o telespectador. Mas que, com tanta tentativa
de chamar a atenção pela mudança -o que inclui a terceirização
da produção-, a novela perdeu
completamente o rumo e ignorou
ingredientes folhetinescos indispensáveis para uma boa audiência: romance, mocinhas, heróis,
vilões etc. É a receita da qual a
Globo já sabe que não pode fugir.
"Novela é um bolo, um confeitado, que tem de ter todos os ingredientes: amor, ódio, a gata borralheira, a vilã. O bom tem de ser
vítima em todos os capítulos, e o
mau tem de fazer maldade sempre", disse o diretor Herval Rossano, em entrevista na fazenda Santa Gertrudes (180 km de SP), onde
são gravadas cenas externas.
Além de "A Escrava Isaura", ele
sugeriu à Record três títulos, entre
eles, outro de época. A emissora
decidiu pela história baseada no
romance de Bernardo Guimarães,
de 1875, com temática abolicionista. E, como não poderia deixar
de ser, a abertura da nova versão
terá a mesma música usada pela
Globo. "Retirante", de Jorge
Amado e Dorival Caymmi -famosa pelo refrão "lerê, lerê"- terá agora uma regravação.
A insistência na teledramaturgia é parte do plano da Record de
ultrapassar o SBT e atingir a vice-liderança no Ibope -estratégia
que envolve ainda o investimento
em um "novo jornalismo" e o fim
do "mundo cão", a contratação
dos globais Márcio Garcia e Tom
Cavalcante e "reality shows".
Cada capítulo de "A Escrava
Isaura" custará cerca de R$ 150
mil, um pouco abaixo do parâmetro da Globo. A Record já planeja
ter mais dois horários de novela,
como a concorrente. Tanto investimento se justifica pela certeza de
que, no Brasil, não há TV líder de
audiência sem novela de sucesso.
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