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Restaurantes de alto padrão oferecem óculos para clientes que não conseguem ler as miúdas sugestões do menu
Miopia chique
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Cardápio nas mãos, o casal parece indeciso. Aproxima e afasta
do rosto as sugestões do restaurante chique de São Paulo, aparentemente sem saber o que pedir. O maître aparece, polido:
"Posso ajudar?".
Em vez de desfiar os detalhes
das opções gastronômicas da casa, o homem oferece um estojo
preto, bonito, semelhante aos de
charutos ou de saquinhos de chás
finos. Sobre a forração de veludo
negro da embalagem, seis pares
de óculos de leitura chegam em
socorro do casal, cuja idade gira
em torno de 40 anos.
Eles não estavam indecisos:
simplesmente não enxergavam o
que está escrito no menu.
Quem já passou dos 40, está
com a popular "vista cansada",
esqueceu os óculos em casa ou
não quer comprometer a estética
pode vivenciar a cena acima em
diversos bons restaurantes de São
Paulo e alguns do Rio, que estão
disponibilizando óculos de leitura
para que os clientes tenham como
ler confortavelmente as opções do
menu, da carta de vinhos e mesmo a conta.
É um hábito em casas de prestígio no exterior, como a do chef
francês Alain Ducasse, em Nova
York, que atende a uma clientela
madura, aquela de poder aquisitivo suficiente para garantir a freqüência das boas casas do ramo,
mas que não se dá bem com as
lentes de aumento.
A "vista cansada" não é a mesma coisa que miopia. O transtorno que impede que se enxergue
bem de perto chama-se presbiopia e atinge indiscriminadamente
homens e mulheres a partir dos
40 anos.
Luz ambiente
O bistrô ICI, em Higienópolis,
aderiu há pouco à moda: dispõe
de um estojo com óculos entre 0,5
e 3,5 graus. "Para manter o ambiente mais agradável, nossa iluminação é baixa, o que naturalmente dificulta a leitura", diz o
chef Benny Novak.
Ele adquiriu seu estojo da especialista em óptica Adriana Mourad, que está disseminando a onda em São Paulo. "Vi isso em Milão e tive a idéia de montar os kits
para os restaurantes daqui. A receptividade tem sido muito boa.
Há estojos de três e seis pares, todos importados", diz ela.
Conforme Mourad, os restaurantes DOM, Empório Ravioli,
Pasta e Vino e casas do grupo Fasano já aderiram ao kit, e outros
como La Casserole, Famiglia
Mancini e Terraço Itália podem
adquiri-lo em breve.
Um dos restaurantes mais badalados do mundo, o de Alain
Ducasse, de Nova York, é pioneiros nessa área. Mas, claro, com
glamour de Primeiro Mundo, segundo conta a especialista em
gastronomia Rosa Moraes. "Estive lá para um almoço com o Ducasse e, enquanto o aguardava, o
maître me ofereceu alguns livros
do chef. Mas eu estava sem meus
óculos de leitura. "No problem,
madam", disse ele, oferecendo
uma caixa de madeira linda, imitação de um livro de Hemingway.
Dentro havia uma coleção de óculos modernos e antigos, chiquérrimos, de graus e modelos variados. Achei o máximo", afirma a
gourmet, para quem a iniciativa
dos restaurantes brasileiros vai facilitar a vida de muita gente.
Isso já acontece com a seleta
clientela do restaurante Fasano. A
direção do estabelecimento informa que considera sua obrigação
fazer todo o possível para tornar o
serviço impecável e oferecer todas
as comodidades para que o jantar
seja perturbado o mínimo possível. Portanto, o cliente tem à sua
disposição óculos de diferentes
graus, mas que só são apresentados quando requisitados.
A idéia de oferecer óculos para o
uso de pessoas diferentes não é,
no entanto, uma unanimidade.
"Acho meio anti-higiênico um
mesmo óculos ser usado por mais
de uma pessoa. Será preciso cuidado por parte do pessoal do restaurante", diz o oftalmologista
Marcelo Cunha. "O ideal seria
cardápios com letras grandes e
iluminação adequada, mas isso
não ocorre."
Para os que sempre "esquecem"
os óculos de leitura, Cunha desenvolveu uma opção, que costuma
oferecer de brinde a pacientes e
amigos: pequenas réguas de acrílico, que aumentam as letras.
"Não é preciso colocar no rosto,
basta aproximar das letras do cardápio de acordo com a necessidade de cada um", afirma.
Sem os kits em estojo ou as réguas de aumento do especialista,
restaurantes do Rio de Janeiro
improvisam. No Carême há três
pares de óculos de acrílico à disposição dos clientes. São de graus
diferentes, ""mas todos ajudam de
alguma forma", diz a chef Flávia
Quaresma. Ela afirma que os
comprou porque cresceu vendo o
pai discutir com a mãe porque ela
esquecia os óculos e ninguém enxergava nada na hora de conferir
a conta. ""É essencial e fundamental para que casais não briguem,
como meu pai e minha mãe."
O Antiquarius também tem três
óculos à disposição dos clientes:
dois foram comprados e um foi
""doado" por um cliente que sempre esquecia o seu e preferiu deixar um lá.
Colaborou Cleo Guimarães, da Sucursal
do Rio
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