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Maior performer contemporânea ganha mostra
A sérvia radicada nos EUA Marina Abramovic ganha exposição que será aberta amanhã na galeria Brito Cimino
"Para chegar ao grau mais alto de consciência, é preciso experimentar a dor", diz ela, que exibe objetos com minerais brasileiros
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Marina Abramovic reclama
que seus cabelos ainda não secaram depois do banho no hotel. É tarde fria de domingo em
São Paulo. Toda de preto, entra
na galeria Brito Cimino e passa
reto pelas próprias obras.
Ela ajeita o penteado, retoca
a maquiagem num espelho que
tira da bolsa e passa um batom
vermelho depois de perguntar
se os retratos para o jornal seriam coloridos ou preto-e-branco. É a mesma mulher que
já ateou fogo ao próprio corpo,
ficou 12 dias sem comer, fez
cortes na barriga, cortou os dedos com facas, arrancou os cabelos, congelou braços e pernas, conviveu com cobras venenosas e tomou remédios para
provocar convulsões em performances nos últimos 30 anos.
"Meu corpo está cheio de
marcas e cicatrizes, mas eu vou
ao salão de beleza", diz Abramovic à Folha. "O corpo precisa estar em boas condições para agüentar as performances."
Considerada a mais importante performer da arte contemporânea hoje, a sérvia radicada nos Estados Unidos não
quer mais saber de dor, pelo
menos por enquanto. As obras
de sua primeira individual numa galeria brasileira, aberta
amanhã na Brito Cimino, tentam restabelecer a ordem, "fazer cirurgia na alma".
"Foi um momento sentimental para mim", lembra. Ela
descobriu materiais como cobre, quartzo, ferro e ametista,
usados nas obras agora expostas aqui, quando veio ao Brasil
pela primeira vez, em 1989. Ela
acabava de terminar, com uma
performance na Grande Muralha da China, um relacionamento de 12 anos com o artista
alemão Ulay -cada um andou
2.000 km de cada extremidade
do muro para uma despedida
no meio do caminho.
"Não aceito o fracasso. Estávamos juntos, derretidos num
só, para chegar a outro patamar", diz Abramovic. "Quando
vi que já não podíamos ir além,
decidi parar tudo de uma vez."
Cirurgia na alma
Os minerais em estado bruto
colhidos por ela no Brasil servem para reenergizar o corpo.
"Chair for Departure" e "Inner
Sky" seriam uma espécie de capacete de ametista para sintonizar o pensamento com forças
da terra. "Black Dragon", "Red
Dragon" e "White Dragon" são
chapas de cobre oxidado com
quartzo rosa, que harmonizam
mente, coração e sexo.
Uma cama de alumínio equipada com chapas de plástico
colorido é sua mesa de cirurgia
para a alma. Ela espera que visitantes da galeria tirem as roupas e se deitem na cama por
uma hora, olhando fixamente
para sua cor preferida.
"O público é sempre voyeur,
mas é importante que interaja
com a obra", diz Abramovic.
"Só nunca pediria às pessoas
que fizessem o que eu faço, porque ali só eu estou no comando,
sei dos meus limites."
Abramovic já desmaiou no
meio de uma roda de fogo e teve
um revólver apontado para a
cabeça por um espectador numa de suas performances -não
espanta que ela tenha deixado
prontas instruções para o próprio enterro, que deve encenar
no teatro, em Nova York, em
2011. "Não quero morrer, quero
perder o medo da morte", diz a
artista, para quem a vida é performance, e a dor, ferramenta.
"Para chegar ao grau mais alto de consciência, é preciso experimentar a dor", afirma
Abramovic. "O público fareja
insegurança, então a performance é aqui e agora. No final, a
dor é só uma invenção."
MARINA ABRAMOVIC
Quando: abertura amanhã, às 19h;
de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb.,
das 11h às 17h; até 2/8
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de Carvalho, 842, tel. 0/xx/11/3842-0634; livre)
Quanto: entrada franca
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