|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Seriados suscitam reações extremadas
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Dos temas já comentados
nesta coluna, os seriados
americanos estão entre os que
parecem ter maior repercussão,
só competindo com textos sobre
notórios campeões de audiência,
como Silvio Santos e Xuxa.
Na semana retrasada, quando a
coluna fez uma comparação entre as comédias produzidas pela
TV brasileira e as chamadas sitcoms ("Séries cômicas ironizam
costumes"), as opiniões que chegaram por e-mail bateram um
modesto recorde de três dezenas
de mensagens.
Grosso modo, metade delas
reagia ao elogio das sitcoms com
uma certa veemência nacionalista, enquanto a outra metade fazia
coro à coluna. Apesar de o texto
afirmar a superioridade das sitcoms sobre as séries cômicas
brasileiras, enfatizando a falta de
produção sistemática no Brasil,
as reações suscitadas pela comparação brasileiro x importado
podem se estender para a teledramaturgia como um todo.
Nacionais e estrangeiros
Curioso que, a essa altura e
num meio tão permeável a todo
o tipo de influências como a TV,
ainda viceje a tensão nacional x
internacional. Mais, que seja o
caso de atacar um para defender
o outro, como se houvesse algum
tipo de disputa em jogo.
Transfere-se para a TV, "a máquina de fazer doido", os mesmos termos de uma discussão já
caduca -e, no fundo, sem solução- na cultura brasileira.
Defender o produto nacional
parece boa idéia -mas, e se a
gente pensar que toda, ou quase
toda, a produção nacional na
área de teledramaturgia, por
exemplo, vem da mesma emissora, com os mesmos formatos há
mais de 30 anos, será que estaremos mesmo fazendo a defesa daquilo que é realmente do povo
brasileiro?
Existe a teledramaturgia nacional ou uma, e apenas uma, teledramaturgia nacional? Em outras palavras, a Rede Globo consegue dar conta de representar o
Brasil?
As bem-sucedidas experiências
de outras emissoras, como a recente "A Turma do Gueto", sugerem que há vários Brasis que não
estão -e provavelmente nunca
estarão- representados pela
Globo.
Por outro lado, apesar de a
amostra ser estatisticamente insignificante, o fato de colunas sobre seriados ensejarem reações
dos leitores pode indicar que as
séries vêm ganhando terreno entre o público de TV.
O fato de isso se dar entre a parcela mais elitizada do público,
uma vez que são as TVs por assinatura que exibem esses programas, não deveria significar que
não haja ali o que observar.
De alguma maneira, as séries
norte-americanas vêm dando
conta de falar de modos de vida,
de representar grupos sociais e
de amarrar referências culturais
que têm escapado sistematicamente das melhores tentativas,
da Globo ou não, mas que já fazem parte da cultura urbana das
grandes cidades brasileiras.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
Texto Anterior: Mídia: Globo e SBT começam a investir em regionalização Próximo Texto: As roupas do imperador Índice
|