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Pesquisa avalia cem horas de "Malhação", "Altas Horas" e mais oito atrações para jovens
Superficial, TV teen vira exemplo
Estudo apoiado pelo Unicef afirma que o telespectador adolescente tem opções melhores do que adultos
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Malhação" passa a ser a novela
das oito, no lugar de "Celebridade". Serginho Groisman vai para
a Record e apresenta seu "Altas
Horas" no horário do policial "Cidade Alerta". A Globo põe no ar
os programas da MTV.
A Folha enlouqueceu? Não. O
parágrafo acima dá algumas "notícias" do que seria uma TV de
qualidade, segundo um estudo divulgado na quarta passada.
A pesquisa, realizada pela Andi
(Agência de Notícias dos Direitos
da Infância) e pelo Unicef (Fundo
das Nações Unidas para a Infância), concluiu que a televisão seria
melhor se toda a programação seguisse os bons exemplos de atrações voltadas ao público jovem.
Em palavras menos otimistas, a
tese do levantamento, batizado de
"Remoto Controle", é a seguinte:
ainda que superficiais e centrados
em estereótipos -ricas mocinhas
loiras e galãs fortões-, programas teens conseguem ser melhores do que a média da TV.
Foram avaliados dez do gênero,
entre eles "Altas Horas", "Malhação" (Globo), "Meninas Veneno"
(MTV), "Sobcontrole" (Band) e
"Atitude.com", da TVE do Rio.
A seleção começou com as próprias emissoras, que informaram
aos pesquisadores quais de seus
programas são direcionados a
teens. Duas indicações não foram
aceitas: um quadro do "Curtindo
uma Viagem", de Celso Portioli,
do SBT, e o "É Show com Adriane
Galisteu", da Record. De acordo
com a pesquisa, eles não focam
preferencialmente os jovens.
Ao todo, foram avaliadas cem
horas de programação. Nove consultores -entre eles, a apresentadora Soninha e o sociólogo Laurindo Lalo Leal, da ONG TVer-
assistiram a 15 episódios de cada
um dos dez escolhidos. Decuparam as fitas, contaram segundos,
viram e reviram, discutiram e tabularam os dados. A conclusão
surpreendeu os pesquisadores.
"Percebemos que não são abobrinhas, assuntos irrelevantes. A
pesquisa ajuda a desconstruir o
mito de que a programação para
jovens é vazia", diz Veet Vivarta,
diretor-editor da Andi, uma ONG
especializada em análises sobre
mídia para jovens e crianças.
Para sustentar essa idéia, um
dado: do conteúdo avaliado,
81,1% abordaram temas "socialmente relevantes", como prevenção à Aids, gravidez e emprego.
Outro ponto positivo: a programação jovem não costuma explorar gratuitamente a sexualidade e
a violência. Só 21% mostraram cenas violentas, sendo que metade
delas era contextualizada.
Mas será que uma TV teen,
mesmo com seus problemas, poderia de fato influenciar positivamente a programação geral? "Seria sensacional se a programação
da TV dos adultos tivesse a qualidade da TV das crianças e dos
adolescentes", diz à Folha o apresentador Marcelo Tas, criador do
repórter Ernesto Varela e um dos
idealizadores de "Castelo Rá-Tim-Bum" e "Vitrine" (Cultura).
Ele, no entanto, acha difícil que
isso ocorra na TV. "Adultos são
seres cansados e se deixam enganar facilmente. São capazes de assistir a uma novela molenga por
meses a fio sem reclamar. Com o
público infantil e adolescente, não
há meio termo. Quando não gostam de algo, mudam de canal ou
trocam a TV pelo videogame, internet ou telefone", afirma.
Na opinião de Tas, a programação teen é melhor porque os jovens são "seres mais exigentes".
"Não perdem tanto tempo com
bobagens. São mais inteligentes e
menos falsos do que os adultos."
O cientista político Guilherme
Guerra, consultor da Andi, acredita que seja necessária uma nova
regulamentação para que o lado
bom dos programas jovens prevaleça em toda a TV. "As TVs
sempre falam em censura quando
se tenta interferir de alguma maneira na programação."
A pesquisa foi publicado no livro "Remoto Controle - Linguagem, Conteúdo e Participação nos
Programas de Televisão para Jovens" (330 págs., R$ 33, editora
Cortez, tel. 0/xx/11/3864-0111) e
chegará nesta semana às livrarias.
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