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Minissérie é lançada sem "liberdades" tomadas na TV
"Os Maias" chega ao DVD sem "enxertos"
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Marco da televisão brasileira pela qualidade do texto, da produção e da "mise-en-scène", a minissérie "Os Maias", exibida pela
Rede Globo em 2001, chega ao
DVD expurgada de tudo aquilo
que era alheio ao romance de Eça
de Queirós.
Ou quase tudo. Algumas liberdades tomadas pela escritora Maria Adelaide Amaral na adaptação
do texto queirosiano para a TV
permaneceram na nova versão
(leia texto nesta página).
Mas, de acordo com o diretor da
minissérie, Luiz Fernando Carvalho, que recebeu carta-branca da
Globo para fazer a nova edição, o
grosso dos elementos alheios ao
romance foi eliminado. Isso significa que tramas e personagens extraídos do romance "A Relíquia"
e de outros livros de Eça de Queirós caíram fora.
As mais de 40 horas da minissérie foram reduzidas a quatro
DVDs com a duração total de 15
horas, sem contar os "extras". A
Folha teve acesso ao pacote, que
deverá ser lançado na primeira semana de maio.
Para realizar esse amplo e meticuloso "enxugamento" da série,
Carvalho contou com a assessoria
de Beatriz Berrini, professora da
PUC de São Paulo e respeitada internacionalmente como estudiosa da obra de Eça.
A professora Berrini já havia colaborado com Carvalho antes
mesmo do início das gravações de
"Os Maias", em 2001, quando
conversou longamente com o
elenco sobre o romance e sobre o
mundo do autor português.
"Nunca tive um público tão
atento e informado", rememora
Berrini, que se declara encantada
com a experiência e considera
"admirável" a adaptação realizada por Maria Adelaide Amaral,
apesar de discordar radicalmente
de algumas alterações introduzidas na trama do romance pela escritora (leia texto ao lado).
Carvalho, por sua vez, manifesta satisfação por ter conseguido
trazer "Os Maias" para mais perto
do espírito e da letra do romance
original. "Aquele enxerto de trechos da "Relíquia", que foi inevitável para viabilizar a minissérie,
era algo que me incomodava, até
porque o tom de "Os Maias" é trágico, e o da "Relíquia" é quase de
farsa", diz o diretor.
Além disso, a remontagem lhe
permitiu restaurar suas intenções
originais. "Consegui botar muitas
cenas como eu gostaria de ter feito
e na época não tive tempo."
De acordo com o diretor, o trabalho de reedição o fez lembrar
"da batalha que foi, na época, fazer vingar uma linguagem, um
ritmo e um tratamento que saíam
totalmente do padrão da televisão
brasileira".
"Os Maias" foi o primeiro trabalho de Carvalho na TV depois de
ter dirigido no cinema o longa-metragem "Lavoura Arcaica". "A
experiência no "Lavoura" foi fundamental na realização de "Os
Maias". Por incrível coincidência,
além de ser adaptações de grandes obras literárias, ambas lidam
com o incesto."
"A Relíquia"
Em depoimento que consta do
DVD, Maria Adelaide Amaral diz
que os trechos de "A Relíquia" expurgados da série "Os Maias" serão editados num DVD à parte,
como uma adaptação do romance cômico de Eça.
Mas Beatriz Berrini opina que
isso não será possível. "Só se gravarem cenas novas, pois falta o essencial do livro, que é o sonho do
Teodorico Raposo na Terra Santa." Cauteloso, Luiz Fernando
Carvalho diz que está examinando o material gravado para verificar a viabilidade de um DVD de
"A Relíquia".
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