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"A periferia hoje se vê em outros programas"
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das razões para a diminuição do interesse pelos programas policiais está na ampliação da oferta de outras formas de jornalismo, que, em vez
de só explorar a violência, oferece aos habitantes dessas áreas
informações sobre serviços e
dá voz a suas reivindicações.
Outro fator está na teledramaturgia, que passou a "abraçar"
temas dessa realidade.
Essa é a opinião da advogada
Luciana Guimarães, diretora
de projetos do Instituto Sou da
Paz. Ela cita como exemplo a
série "Cidade dos Homens"
(Globo), criada por Fernando
Meirelles ("Cidade de Deus"),
que mostra a vida de dois garotos de uma favela do Rio, e o seriado "Turma do Gueto" (Record), ambientado na periferia
da Grande São Paulo.
"Os moradores das periferias
deixavam claro que assistiam a
esse tipo de programa "trash"
porque era a única oportunidade de encontrar a realidade deles na TV. Hoje isso mudou."
Ela considera positiva a diminuição de espaço do "Cidade
Alerta" e "Brasil Urgente".
"Eles contribuem para o clima
de medo e não para que tenhamos bons diagnósticos da violência, que possam pautar políticas eficazes de segurança."
Em sua opinião, esses telejornais usam como "desculpa" a
suposta cobertura da realidade.
"A violência é uma questão
muito séria para ser tratada
com irresponsabilidade."
Guimarães vê ainda outra razão para a crise do "mundo
cão" na TV. "O desemprego
passou a ser um terror ainda
maior que a violência para a
população. É um assunto que
tirou a falta de segurança do foco central", afirma a advogada.
O sociólogo Laurindo Lalo
Leal, diretor da ONG TVer e
membro da campanha Quem
Financia a Baixaria é contra a
Cidadania, afirma que as emissoras não reduziram os tempos
dos telejornais policiais por "altruísmo". "As redes perceberam que o telespectador está
cansando dessa fórmula. Mais
que isso, sentiram pressão de
anunciantes, que já evitam patrocinar programas que afrontam a dignidade das pessoas e
criam um clima de pânico."
Na avaliação do sociólogo, a
"gritaria" dos apresentadores
pode dar fôlego à violência.
"Há o risco de que influencie
principalmente jovens sem raízes, que podem buscar se impor ou elevar a auto-estima
através da violência."
Para Lalo Leal, a campanha
Quem Financia a Baixaria é
contra a Cidadania teve forte
influência na decisão das emissoras. "O grande acerto desse
projeto foi ter focado em quem
anuncia em televisão. Recebemos várias manifestações de
anunciantes dizendo que passariam a ter mais cautela na hora de escolher que programas
irão patrocinar", diz Lalo Leal.
A campanha irá agora criar
comitês estaduais, a fim de
pressionar anunciantes regionais. "Fora esses telejornais policiais, há muitos programas locais na mesma linha, até mais
sensacionalistas."
(LM)
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