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Riso e delírio
Bill Plympton une comédia colegial e terror em novo longa exibido hoje no Anima Mundi
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Tiozinho cool. Não pode haver
adjetivo mais justo para descrever
Bill Plympton, 58, dentro do um
tanto esquecido circuito independente da animação.
Afinal, ele é fã do Homer, não o
do seriado, mas o cineasta anônimo e pai de Matt Groening, criador de "Os Simpsons".
Quentin Tarantino, amigo de
longa data, tomou emprestado
seu nome para o personagem
Tony Plympton, marido da Noiva
(Uma Thurman) em "Kill Bill".
Em contrapartida, Plympton, o
animador, emprestou o ator David Carradine, o Bill em pessoa,
para fazer as vozes de um dos personagens de seu novo longa,
"Hair High" (Cabelo em pé), que
tem sessão única hoje no Anima
Mundi, em São Paulo.
Plympton é também um velho
conhecido -ainda que muitos
desconheçam- dos espectadores da MTV, que exibiu suas vinhetas surrealistas da série "Microtoons" à exaustão durante a
década de 90.
Desde a sua estréia no cinema,
com o curta "Drawing Lesson #
2", de 1988, o animador americano nascido em Portland, Oregon,
vem acumulando troféus na sala
de estar de sua casa. Você escolhe:
festival de Cannes, Annecy, Sundance, Spirit e até no Oscar, sim,
Plympton esteve lá.
Quando não está animando -o
que é raro-, Plympton tira seu
sustento de ilustrações esporádicas para revistas como "Village
Voice", "Rolling Stone", "Vanity
Fair", "Vogue" e também para a
pornográfica "Penthouse".
Seu mais novo longa-metragem
trata de um triângulo amoroso
entre o pegajoso Spud, o novo
aluno da escola, e o casal Rod e
Cherri, respectivamente o rei e a
rainha do baile de formatura.
Na hora errada e no lugar errado, Spud vira escravo de Cherri,
depois namorado, depois um cadáver no fundo do lago e, numa
dessas seqüências absurdas, típicas de Plympton, aparece no tal
baile pronto a receber a coroa que
deveria ser sua, por merecimento.
Bem distante do padrão Disney
de entretenimento -na verdade,
Plympton já recusou uma oferta
milionária para trabalhar para o
estúdio-, "Hair High" levou
pouco mais de dois anos para ficar pronto, e o processo, página
por página, foi transmitido em
tempo-real por uma webcam no
site www.hairhigh.com.
A seguir, trechos da entrevista
que Plympton concedeu por e-mail à Folha às vésperas da chegada de "Hair High" ao Brasil.
Folha - Você descreveu seu novo
filme como uma comédia adolescente anos 50 com pitadas de "Carrie, a Estranha". Você gosta mesmo
dessas coisas?
Bill Plympton - Eu não costumo
usar meus sonhos como idéias
para histórias, mas, três anos
atrás, tive um sonho esquisito e
intrigante sobre um carro no fundo de um lago com dois esqueletos dentro. Eles dão a partida no
carro, vão pelo fundo até a margem do lago e seguem em direção
ao baile de formatura do colégio.
Então pensei: "Nooossa, como esses esqueletos foram parar ali e o
que pode ter acontecido?". Não
sou muito fã do gênero de horror,
mas gosto muito de pinturas medievais góticas, e foi essa minha
intenção no filme: unir o grotesco
dessas imagens à comédia.
Folha - Dizem que você tem um
processo bem individual e centralizado de trabalho. Como foi em
"Hair High", você fez tudo sozinho?
Por que não usa o computador?
Plympton - Sim, eu fiz todos os
desenhos do filme, cerca de 30 mil
e paguei tudo do meu próprio
bolso. Não tenho nada contra animação em computador, só não tenho dinheiro o suficiente para
bancar uma. Além disso, elas demoram demais.
Folha - Você usou a internet para
mostrar uma espécie de making of
de "Hair High". Foi uma boa ferramenta de marketing?
Plympton - A "anicam" foi uma
experiência gostosa. Recebia e-mails de pessoas de todo mundo
mas também publiquei uma graphic novel com o storyboard do
filme que ajudou no boca a boca.
Aprendi que promoção e relações
públicas são extremamente importantes para o sucesso de um
filme. Mas gostaria de ter a engenhosidade e a publicidade que
Michael Moore teve em seu novo
filme, "Fahrenheit 9/11".
Folha - "Hair High" tem aparições
especiais de Matt Groening e David
Carradine, de "Kill Bill". De onde
você os conhecia?
Plympton - Sou amigo de Matt
Groening há 20 anos e sou fã do
seu pai, Homer, que era um cineasta muito engraçado. Saía bastante com Matt antes de ele se tornar rico e famoso. "Os Simpsons"
é o programa de TV de maior sucesso de todos os tempos e deu
um grande impulso à indústria de
animação. Conheci David Carradine por causa da minha prima,
Martha Plimpton, que foi a diretora de elenco. Já Tarantino eu conheci há 12 anos quando "The Tune" [primeiro longa de
Plympton] participou de Sundance ao lado de "Cães de Aluguel".
Tomamos algumas bebidas e ele
disse que era um grande fã do
meu trabalho. Até colocou meu
nome em "Kill Bill" -a Noiva está casando com Tony Plympton.
Folha - O politicamente incorreto
está sempre presente em seus trabalhos. Como está sendo fazer humor nos EUA com a onda conservadora que se seguiu após os atentados de 11 de setembro de 2001?
Plympton - A única censura que
já sofri foi quando a Blockbuster
mandou eu cortar da versão em
DVD quatro cenas de sexo de "I
Married a Strange Person" [longa
de 98 em que o marido começa a
sentir poderes sobrenaturais na
noite de lua-de-mel e, literalmente, dá vida à sua imaginação].
HAIR HIGH. De: Bill Plympton. Quando:
hoje, às 18h. Onde: Fundação Bienal
- sala 1 (pq. Ibirapuera, av. Pedro Álvares
Cabral, portão 3). Quanto: R$ 5
(estudantes pagam meia).
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