São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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Schnitzler abre os olhos para o voyeurismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem assistiu ao filme "De Olhos Bem Fechados" (99), o último Kubrick, sobre os desejos ocultos de um casal interpretado por Nicole Kidman e Tom Cruise, ou à montagem teatral de "Senhorita Else" (97), pela Cia. Razões Inversas, conhece o talento perturbador do escritor e médico austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931) para trazer o inconsciente ao primeiro plano.
Os romances "Traumnovelle" (1926) e "Senhorita Else" (1924) são a base do filme e da peça. Em "Blue Room", o dramaturgo britânico David Hare, 55, de "The Judas Kiss", também elege Schnitzler como fonte. O ponto de partida é a peça "Reigen" (1900), que o próprio autor considerava impublicável e a distribuiu apenas a amigos.
Em 1950, o cineasta alemão Max Ophuls (1902-1957) lançou sua livre adaptação para a peça, "La Ronde", clássico que introduz personagem inexistente no original de Schnitzler: o apresentador.
Interpretado por Anton Walbrook, o personagem sublima, numa das falas, o voyeurismo em jogo: "O que eu sou nessa história? Eu, em suma, sou qualquer um de vocês. Sou a encarnação dos seus desejos de saber tudo".
A badalada montagem de "Blue Room", dirigida por Sam Mendes (do filme "Beleza Americana") e estrelada por Nicole Kidman e Ian Glen, estreou em Londres em 1998 e seguiu depois para Nova York.
Por conta da presença da estrela de Hollywood no palco, em sua primeira incursão pelo teatro, a mídia internacional capitalizou a cena em que Nicole aparece nua. Ou seja, atendeu ao voyeur mascarado em seu público-alvo.
Como se, no palco, importasse mais as curvas do que os desvãos da alma. Schnitzler, um interlocutor de Freud, teria farto material de pesquisa no mundo contemporâneo. (VS)



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