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Schnitzler abre os olhos para
o voyeurismo
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem assistiu ao filme
"De Olhos Bem Fechados"
(99), o último Kubrick, sobre os desejos ocultos de um
casal interpretado por Nicole Kidman e Tom Cruise, ou
à montagem teatral de "Senhorita Else" (97), pela Cia.
Razões Inversas, conhece o
talento perturbador do escritor e médico austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931)
para trazer o inconsciente ao
primeiro plano.
Os romances "Traumnovelle" (1926) e "Senhorita Else" (1924) são a base do filme
e da peça. Em "Blue Room",
o dramaturgo britânico David Hare, 55, de "The Judas
Kiss", também elege Schnitzler como fonte. O ponto de
partida é a peça "Reigen"
(1900), que o próprio autor
considerava impublicável e a
distribuiu apenas a amigos.
Em 1950, o cineasta alemão Max Ophuls (1902-1957) lançou sua livre adaptação para a peça, "La Ronde", clássico que introduz
personagem inexistente no
original de Schnitzler: o
apresentador.
Interpretado por Anton
Walbrook, o personagem
sublima, numa das falas, o
voyeurismo em jogo: "O que
eu sou nessa história? Eu, em
suma, sou qualquer um de
vocês. Sou a encarnação dos
seus desejos de saber tudo".
A badalada montagem de
"Blue Room", dirigida por
Sam Mendes (do filme "Beleza Americana") e estrelada
por Nicole Kidman e Ian
Glen, estreou em Londres
em 1998 e seguiu depois para
Nova York.
Por conta da presença da
estrela de Hollywood no palco, em sua primeira incursão pelo teatro, a mídia internacional capitalizou a cena em que Nicole aparece
nua. Ou seja, atendeu ao voyeur mascarado em seu público-alvo.
Como se, no palco, importasse mais as curvas do que
os desvãos da alma. Schnitzler, um interlocutor de
Freud, teria farto material de
pesquisa no mundo contemporâneo.
(VS)
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