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Brasil vai repetir "Bienal do vazio" em Veneza
Em vez de projetos, representação nacional levará depoimentos de personalidades e anônimos à principal mostra de arquitetura
DA REPORTAGEM LOCAL
Se haverá a "Bienal do vazio",
em outubro próximo no Ibirapuera, por que não a "Bienal do
não-arquiteto", em Veneza? A
representação brasileira na
próxima Bienal de Arquitetura
de Veneza investirá nesse conceito algo radical, que dialoga
com o tema geral da 11ª edição
do evento, de 14 de setembro a
23 de novembro. O curador
norte-americano Aaron Betsky
elegeu para o evento na cidade
italiana o tema "arquitetura
além da construção".
Quem assina a proposta curatorial brasileira é o paulistano Roberto Loeb, 67, premiado
da área e responsável por projetos como o Centro da Cultura
Judaica, em São Paulo, e a sede
da Natura, em Cajamar (SP).
"Foi engraçado ter próximo
esse conceito da Bienal do Ivo
[Mesquita, curador da 28ª Bienal de São Paulo, conhecida como "Bienal do vazio']. Acho que
temos pontos em comum em
nossos projetos", diz Loeb. Se a
Bienal que acontece no parque
Ibirapuera deixará completamente desocupado um dos andares do pavilhão onde é sediada, o pavilhão brasileiro em Veneza (projetado em 1963 por
Henrique Mindlin e Giancarlo
Palanti), com cerca de 200 m2,
será preenchido com painéis,
caixas de som, mesas, cadeiras
e cadernos (alguns deles em
branco). Nada dos tradicionais
croquis e maquetes.
"Será uma espécie de abrigo", avalia o arquiteto, que intitulou o espaço com outra provocação, "Não-Arquiteto". "Em
um evento só de arquitetura,
não deixará de criar um ruído."
Relação com o espaço
O ponto de partida da mostra
brasileira será a coleta de cem
depoimentos das mais diversas
personalidades, de intelectuais
às pessoas mais comuns. "Vamos ouvir padeiros, prostitutas, zeladores, secretárias", diz
Loeb. Para todos, será proposto
um pequeno questionário sobre a relação deles com o espaço. "Eles contarão qual o espaço mais marcante que têm, qual
espaço sonham e sua relação
com a cidade."
A partir das respostas e com
desenhos e fotografias cedidos
pelos participantes, serão criados painéis bilíngües (em português e inglês) que sintetizem
a relação dos entrevistados
com a arquitetura. Nem todos
ganharão painéis, mas haverá
cadernos com a síntese dos depoimentos, que poderão ser lidos pelos visitantes. Algumas
das entrevistas também serão
veiculadas por caixas de som,
acompanhadas de sonoridades
urbanas colhidas em São Paulo.
"Alguns dos cadernos estarão
em branco, o público poderá
descrever suas experiências
com a arquitetura, com o espaço. É quase uma proposta artística", resume Loeb, cuja proposta diz ter sido aprovada por
outros arquitetos. "Os grandes
arquitetos são as pessoas. O importante nesse projeto é ouvir o
outro", afirma Loeb, que qualifica a participação brasileira
como "um interessante exercício de reflexão".
(MARIO GIOIA)
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