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Pirataria pode levar ao "fim do cinema"
Greg Frazier, executivo da associação que representa os grandes estúdios, diz que a indústria dos filmes está em risco
Em entrevista, o vice-presidente da MPA fala sobre os efeitos dos downloads ilegais no mercado cinematográfico
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Vice-presidente executivo da
Motion Pictures Association
(MPA), associação que representa os maiores estúdios de cinema dos EUA (Fox, Paramount, Sony Pictures, Universal, Walt Disney e Warner),
Greg Frazier esteve no Brasil
na semana passada. Conversou
com deputados e senadores sobre a legislação a respeito de direitos autorais e pirataria.
Ele falou à Folha.
FOLHA - Quais os objetivos de sua
visita a Brasília?
GREG FRAZIER - O Brasil possui
boas leis contra a pirataria, mas
temos que ter certeza de que as
autoridades estão conseguindo
fazer com que essas leis sejam
respeitadas. Uma das nossas
prioridades é combater as pessoas que entram nos cinemas e
gravam os filmes [para revendê-los em DVD].
FOLHA - O principal problema no
Brasil é a pirataria física?
FRAZIER - Sim, a pirataria física
no Brasil teve um efeito devastador para a indústria, especialmente no ramo do aluguel de
filmes, que é um setor crítico
para os estúdios.
FOLHA - Quais outros países sofrem com a pirataria?
FRAZIER - Gostaria de dizer que
apenas poucos países sofrem
com o problema, mas temos
um estudo que informa que em
2005 a indústria perdeu US$ 18
bilhões com a pirataria no
mundo. Um dos problemas é
que muita gente olha para esses
dados e pensa que essa é uma
questão apenas dos estúdios
americanos. Isso não poderia
estar mais longe da realidade.
Esse estudo indicou que a indústria global mundial, não
apenas a americana, que inclui
produtores e distribuidores
brasileiros, havia perdido US$
24 bilhões.
Fazer filmes é um negócio arriscado, que envolve muito dinheiro. Nem todo filme dá lucro. Se você quiser fazer um segundo filme depois de ter feito
o primeiro, tem que poder proteger o seu investimento.
FOLHA - Sobre a indústria da música, há a opinião de que artistas não
ganharão mais dinheiro com discos,
mas fazendo shows. O valor da música está em discussão. Com o cinema pode ocorrer algo parecido?
FRAZIER - É um problema. O
que posso dizer é o seguinte:
um filme americano, em média,
custa US$ 100 milhões para ser
produzido. E seis de cada dez
filmes feitos nos EUA não dão
dinheiro. Portanto, é um negócio arriscado. Ao fazer um filme, espera-se obter um retorno. Se um filme qualquer está disponível na internet e você
faz um download ilegal, isso é
roubo. Você rouba os produtores, atores, criadores.... E se você rouba essas pessoas, o negócio está em risco.
FOLHA - Mas o custo dos filmes não
poderia ser menor? Não dá para fazer filmes mais baratos?
FRAZIER - Sim, faz-se filmes
mais baratos. Mas se você pesquisar quais filmes são populares, verá que são os blockbusters americanos, como "Homem de Ferro", "Indiana Jones", "Agente 86". São os filmes
que as pessoas querem ver. Não
significa que não exista mercado para filmes menores. Nos
EUA, tivemos filmes como
"Crash", "Pequena Miss Sunshine", que custaram pouco e arrecadaram dinheiro. Mas uma
coisa não vai mudar: se as pessoas continuarem a roubar filmes, será o fim da indústria do
cinema. Não dá para competir
com alguém que não tem custo
nenhum. Alguém que investiu
US$ 100 milhões num filme e
outra que não investiu um centavo, não dá para competir.
FOLHA - Uma das razões que motivam alguém a baixar um filme é
porque ainda é burocrático comprar
um filme pela internet. Não está na
hora de a indústria encontrar um
modelo prático e fácil para as pessoas comprarem filmes?
FRAZIER - Sim, não há dúvida
quanto a isso. Se nossos filmes
não estiveram disponíveis de
forma fácil, prática e barata, você irá a outro lugar procurar
por eles.
FOLHA - Hoje produz-se mais filmes no formato 3D. É uma maneira
de lutar contra a pirataria? É algo
que os estúdios investirão?
FRAZIER - Não há dúvida de que
os estúdios farão mais e mais
filmes em 3D. A tecnologia mudou, a produção está mais desenvolvida. Esse formato será
bastante popular.
FOLHA - Em vários países já existem ou se discute a criação de cotas
para filmes de produções locais para
combater o domínio do cinema
americano. Qual a posição da MPA
sobre essa questão?
FRAZIER - Acreditamos que o
público deveria decidir quais
filmes querem ver, e não os políticos. Nossa experiência
quanto a essas medidas é que
elas são contraproducentes,
obriga os cinemas a exibir filmes que não são populares,
apenas para satisfazer o que o
governo decidiu.
O melhor seria desenvolver a
indústria local, e nós somos a
favor do desenvolvimento das
indústrias locais. A indústria
americana, nos últimos cinco
ou seis anos, investiu R$ 200
milhões em co-produção de filmes brasileiros. É muito dinheiro. Os estúdios americanos
investiram na produção e na
distribuição de filmes brasileiros. Se a indústria brasileira
crescer, será bom para nós. Se
mais gente assistir a filmes brasileiros, argentinos ou chineses, essas pessoas acabarão assistindo depois aos filmes americanos. Portanto, nossa opinião é que o público, e não o governo, deve decidir o que ver no
cinema.
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