São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Pirataria pode levar ao "fim do cinema"

Greg Frazier, executivo da associação que representa os grandes estúdios, diz que a indústria dos filmes está em risco

Em entrevista, o vice-presidente da MPA fala sobre os efeitos dos downloads ilegais no mercado cinematográfico

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Vice-presidente executivo da Motion Pictures Association (MPA), associação que representa os maiores estúdios de cinema dos EUA (Fox, Paramount, Sony Pictures, Universal, Walt Disney e Warner), Greg Frazier esteve no Brasil na semana passada. Conversou com deputados e senadores sobre a legislação a respeito de direitos autorais e pirataria. Ele falou à Folha.  

FOLHA - Quais os objetivos de sua visita a Brasília?
GREG FRAZIER
- O Brasil possui boas leis contra a pirataria, mas temos que ter certeza de que as autoridades estão conseguindo fazer com que essas leis sejam respeitadas. Uma das nossas prioridades é combater as pessoas que entram nos cinemas e gravam os filmes [para revendê-los em DVD].

FOLHA - O principal problema no Brasil é a pirataria física?
FRAZIER
- Sim, a pirataria física no Brasil teve um efeito devastador para a indústria, especialmente no ramo do aluguel de filmes, que é um setor crítico para os estúdios.

FOLHA - Quais outros países sofrem com a pirataria?
FRAZIER
- Gostaria de dizer que apenas poucos países sofrem com o problema, mas temos um estudo que informa que em 2005 a indústria perdeu US$ 18 bilhões com a pirataria no mundo. Um dos problemas é que muita gente olha para esses dados e pensa que essa é uma questão apenas dos estúdios americanos. Isso não poderia estar mais longe da realidade. Esse estudo indicou que a indústria global mundial, não apenas a americana, que inclui produtores e distribuidores brasileiros, havia perdido US$ 24 bilhões. Fazer filmes é um negócio arriscado, que envolve muito dinheiro. Nem todo filme dá lucro. Se você quiser fazer um segundo filme depois de ter feito o primeiro, tem que poder proteger o seu investimento.

FOLHA - Sobre a indústria da música, há a opinião de que artistas não ganharão mais dinheiro com discos, mas fazendo shows. O valor da música está em discussão. Com o cinema pode ocorrer algo parecido?
FRAZIER
- É um problema. O que posso dizer é o seguinte: um filme americano, em média, custa US$ 100 milhões para ser produzido. E seis de cada dez filmes feitos nos EUA não dão dinheiro. Portanto, é um negócio arriscado. Ao fazer um filme, espera-se obter um retorno. Se um filme qualquer está disponível na internet e você faz um download ilegal, isso é roubo. Você rouba os produtores, atores, criadores.... E se você rouba essas pessoas, o negócio está em risco.

FOLHA - Mas o custo dos filmes não poderia ser menor? Não dá para fazer filmes mais baratos?
FRAZIER
- Sim, faz-se filmes mais baratos. Mas se você pesquisar quais filmes são populares, verá que são os blockbusters americanos, como "Homem de Ferro", "Indiana Jones", "Agente 86". São os filmes que as pessoas querem ver. Não significa que não exista mercado para filmes menores. Nos EUA, tivemos filmes como "Crash", "Pequena Miss Sunshine", que custaram pouco e arrecadaram dinheiro. Mas uma coisa não vai mudar: se as pessoas continuarem a roubar filmes, será o fim da indústria do cinema. Não dá para competir com alguém que não tem custo nenhum. Alguém que investiu US$ 100 milhões num filme e outra que não investiu um centavo, não dá para competir.

FOLHA - Uma das razões que motivam alguém a baixar um filme é porque ainda é burocrático comprar um filme pela internet. Não está na hora de a indústria encontrar um modelo prático e fácil para as pessoas comprarem filmes?
FRAZIER
- Sim, não há dúvida quanto a isso. Se nossos filmes não estiveram disponíveis de forma fácil, prática e barata, você irá a outro lugar procurar por eles.

FOLHA - Hoje produz-se mais filmes no formato 3D. É uma maneira de lutar contra a pirataria? É algo que os estúdios investirão?
FRAZIER
- Não há dúvida de que os estúdios farão mais e mais filmes em 3D. A tecnologia mudou, a produção está mais desenvolvida. Esse formato será bastante popular.

FOLHA - Em vários países já existem ou se discute a criação de cotas para filmes de produções locais para combater o domínio do cinema americano. Qual a posição da MPA sobre essa questão?
FRAZIER
- Acreditamos que o público deveria decidir quais filmes querem ver, e não os políticos. Nossa experiência quanto a essas medidas é que elas são contraproducentes, obriga os cinemas a exibir filmes que não são populares, apenas para satisfazer o que o governo decidiu.
O melhor seria desenvolver a indústria local, e nós somos a favor do desenvolvimento das indústrias locais. A indústria americana, nos últimos cinco ou seis anos, investiu R$ 200 milhões em co-produção de filmes brasileiros. É muito dinheiro. Os estúdios americanos investiram na produção e na distribuição de filmes brasileiros. Se a indústria brasileira crescer, será bom para nós. Se mais gente assistir a filmes brasileiros, argentinos ou chineses, essas pessoas acabarão assistindo depois aos filmes americanos. Portanto, nossa opinião é que o público, e não o governo, deve decidir o que ver no cinema.


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