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"Hoje é o consumidor quem dita as regras"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Steve Solot foi a cara da MPA
(Motion Picture Association)
na América Latina durante 27
anos. Tempo suficiente para
ver o negócio do cinema mudar.
"No modelo de hoje, é o consumidor quem dita as regras e
até as janelas de comercialização", diz ele. As "janelas" são o
intervalo para o lançamento de
um filme em diferentes formatos de exibição -sala de cinema, DVD, TVs a cabo e aberta.
Antes, era a indústria que definia essas "janelas". A internet,
com sua possibilidade de acesso instantâneo quase ilimitado
aos filmes, virou o jogo.
Solot, que deixou neste ano o
cargo de vice-presidente sênior
da MPA para a América Latina
e abriu sua própria empresa, a
LATC (Latin American Training Center), diz que, na nova
forma adotada pelo negócio do
cinema, "tudo depende do modelo de "preço mais segurança".
E segurança significa como
controlar os direitos digitais
[de propriedade intelectual]".
A pirataria é, na opinião dele,
"a ameaça mais séria que existe
[à indústria audiovisual], não
só no Brasil, mas no mundo todo" e deriva do "conflito de interesses entre o consumidor e
quem disponibiliza o produto".
Embora acredite que esse
conflito "vá ser resolvido naturalmente, como conseqüência
do mercado", Solot se permite
um reparo à estratégia antipirataria dos grandes estúdios de
Hollywood, como os seis grandes reunidos sob o selo MPA.
Outro lado da moeda
"Confesso que os estúdios insistem em bater no pirata e, como grande parte do tempo deles está dedicada a reprimir a pirataria, sobra menos espaço
para o outro lado da moeda, que
é a união ao redor de um modelo único, para oferecer o produto legal ao consumidor num
modelo de business adequado."
Sem um modelo de "gerenciamento digital" unificado,
avalia Solot, "o consumidor fica
sem saber o que fazer".
Os produtores de filmes brasileiros também andam meio
perdidos em relação às possibilidades de exploração do mercado, na opinião de Solot. É por
isso que ele define sua nova
empresa como um "centro de
treinamento audiovisual".
No Brasil, "não existe um
curso sério, prático, de formação de produtores", diz. "Hoje
em dia, o produtor ou é uma
conseqüência do que a gente
chama de "learn by doing"
[aprender fazendo], ou saiu de
um curso acadêmico de cinema
e não tem experiência prática
para iniciar uma produção séria, de orçamento razoável".
Desde quando Solot iniciou
sua carreira na MPA até hoje,
produtores brasileiros apontam a "hegemonia do produto
norte" no mercado interno como determinante de sua segregação à periferia da indústria.
"O modelo existente das majors de Hollywood não oferece
ao produtor nacional espaço
suficiente para a produção, a
distribuição, a exibição de seu
produto. É um fato. O que venho fazer é formar, ensinar,
abrir a possibilidade técnica de
ele desafiar melhor esses três
espaços, o que ele não consegue
fazer porque não tem a formação adequada", diz Solot.
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