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a reconquista de Adriano
Comparado a Obama, imperador romano do século 2 volta aos holofotes com grande mostra no British Museum, filme com Banderas e documentário da BBC
GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM LONDRES
De tempos em tempos, algum personagem histórico sai
da estante empoeirada para novos holofotes. A abertura de
uma megaexposição pelo British Museum há um mês, um
documentário da BBC e a adaptação para o cinema do romance de Marguerite Yourcenar
("Memórias de Adriano") jogam o controverso imperador
romano do século 2 no centro
das releituras históricas e culturais da temporada.
A soma de acontecimentos
tem levado a imprensa européia a comparar o interesse por
Adriano à "moda" Tutancâmon
vivida pela Inglaterra nos anos
70 e a procurar certos sinais de
"atualidade" no imperador, a
começar por sua atuação na antiga Mesopotâmia, hoje Iraque.
Herdeiro do império no momento de sua máxima extensão, Adriano teve que lidar com
uma campanha militar problemática na região.
"É a história do jovem chefe
de Estado de uma grande potência cuja primeira decisão é a
de se retirar do Iraque, onde
seus exércitos estão afundados
nos conflitos. Obama? Não,
Adriano", escreveu o jornal
francês "Le Monde".
Paixão gay
Um artigo do jornal inglês
"Sunday Times" comenta a
transformação de Adriano em
símbolo gay contemporâneo,
graças à relação declarada e expansiva com o jovem grego Antínoo -grande paixão do imperador, a quem dedicou templos
e uma cidade perto do local de
sua morte.
Essa atualidade se traduz em
sucesso de público. A mostra
teve 12 mil ingressos vendidos
pela internet antes da abertura
(um recorde para o museu). O
cinema também deve faturar
com a onda: o filme do britânico John Boorman, esperado
para 2010, tem Antonio Banderas previsto para o papel do imperador e filmagens na Itália,
na Espanha e no Marrocos.
"Foi uma feliz coincidência.
Decidimos montar a exposição
e apenas há poucos meses soube da produção do filme. Mesmo que ele seja bastante ficcional, ajuda a aumentar a curiosidade do público em torno de
Adriano", disse à Folha Thorsten Opper, curador de escultura grega e romana do museu e
um dos responsáveis pela exposição do British Museum.
Novas descobertas
Com cerca de 180 peças, vindas de 28 museus diferentes, a
mostra, em cartaz até 26 de outubro, reúne estátuas em mármore e bronze, ânforas, bustos,
moedas, pequenos objetos e
uma maquete da Vila Adriana,
em Tivoli, agrupados numa
grande área circular, o antigo
Reading Room do museu.
Encontrados em julho do
ano passado durante escavações na antiga cidade de Sagalassos (sudoeste da Turquia), a
cabeça e um pé de uma enorme
estátua do imperador são apresentados ao público pela primeira vez. "Essas descobertas
nos levam a colocar novas
questões", disse o curador.
"Ainda que baseado numa pesquisa histórica muito densa, o
livro de Yourcenar refletia
questões e preocupações do
pós-guerra. O mundo mudou
bastante de lá para cá, e me parece o momento de tentarmos
outras abordagens para entender essa figura", afirma (leia
mais no texto ao lado).
A importância do azeite de
oliva para a cozinha, higiene,
medicina e iluminação de Roma, além do comércio com os
impérios chinês e persa, são alguns dos temas tratados pela
mostra. Uma seção é dedicada à
contenção da revolta judaica e à
refundação de Jerusalém.
"Ainda há muita coisa a ser
encontrada. Escavações importantes estão sendo feitas nesse
momento em Israel, e penso
que novidades devem surgir
nos próximos anos", afirma
Thorsten Opper.
Os maiores esforços, entretanto, estão na compreensão da
personalidade complexa do imperador: general sangüinário e
homem de letras; administrador regrado e amante incontrolável. Admirador da cultura e
arquitetura gregas, ele foi o primeiro imperador a usar a barba
cheia -a estética romana preferia o rosto limpo e barbeado.
Com os escassos registros escritos que sobreviveram, as estátuas ainda são o principal
meio para entender tanto o casamento com Sabina quanto o
envolvimento com Antínoo.
Documentário
Lançado paralelamente à exposição, um documentário assinado pelo historiador Dan
Snow e produzido pela BBC
percorre o muro de 117 km
construído pelo imperador entre a Inglaterra e a Escócia, para conter os exércitos inimigos
vindos do Norte.
"É com outros olhos que vejo
a faixa de Gaza", comenta o curador do British Museum.
Por conta da "euforia" Adriano, algumas cidades britânicas
à beira do muro, como Newcastle, esperam um aumento da visitação nos próximos anos.
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