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O declínio do império das loiras
Queda de audiência e anunciantes esgota fórmula que foi sucesso por duas décadas
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Por anos e anos as crianças quiseram "mandar um beijo pra minha mãe, pro meu pai e pra você".
Duas décadas após o surgimento
de Xuxa -"rainha" de uma leva
de seguidoras loiras-, o público
infantil demonstra dar "beijinho,
beijinho, tchau, tchau" para a já
antiga fórmula apresentadora/auditório/desenhos animados.
Emissoras já admitem um esgotamento da chamada "era das loiras" e quebram a cabeça para tentar descobrir o que poderia substitui-las com o mesmo prestígio e
audiência dos áureos tempos.
"Xuxa no Mundo da Imaginação", da Globo, perde freqüentemente no Ibope para os desenhos
do SBT, que no ano passado pôs
fim à seqüência de loirinhas com
a saída de Jackeline Petkovic.
Eliana, depois de quase 15 anos
à frente de vários programas de
sucesso, despede-se dos infantis
no próximo 12 de outubro, Dia
das Crianças. Em seu lugar, a Record coloca um programa de fofocas com Sonia Abrão e, para os
pequenos, reserva apenas as manhãs de sábado e domingo -só
com desenhos, sem loiras.
Angélica, grávida, continuará
no "Vídeo Show" e não tem planos de voltar a pular para a criançada, o que deixou de fazer em
2001, 18 anos após estrear como
substituta de Xuxa na Manchete.
Outras loiras desapareceram da
TV, e o que é
mais significativo: diferentemente do que ocorreu ao longo de 20
anos, nenhum canal está à caça de
novas caras bonitinhas. Enquanto
não entendem por que os "baixinhos" se cansaram desses programas, o que gostariam de ver na
TV e como atrair os anunciantes
desse público, emissoras abertas
mergulham num vazio da programação infantil: há pouca inovação e raramente algo consegue
despertar o interesse da massa de
pequenos telespectadores.
Prova disso é o fato de os infantis quase nunca atingirem dois dígitos no Ibope, o que ocorria no
auge do império das loiras, e de as
dez maiores audiências da faixa
de quatro a 11 anos serem de programas adultos.
Na semana passada, também
chamou a atenção de anunciantes
e TVs a entrega do Prêmio MídiaQ, da ONG Midiativa, no qual
crianças, pais e especialistas escolhem infantis de qualidade. Dos
quatro aos sete anos, o vencedor
foi "Castelo Rá-Tim-Bum", que
sobrevive de reprises na Cultura
há quase dez anos. Dos oito aos 11,
não houve ganhador. "A TV aberta está em dívida com a criança.
Precisa achar um rumo e produzir mais", diz Beth Carmona, presidente da TVE do Rio e da Midiativa e ex-diretora de programação
da TV Cultura de São Paulo.
Para ela, felizmente o formato
das loiras já se esgotou. "O sucesso desses produtos se dava muito
em razão dos desenhos. Houve
um tempo em que a âncora era
necessária para alavancar os enlatados, mas as emissoras perceberam que o desenho poderia ser
exibido sozinho, que é mais barato assim. O sucesso da animação é
um fenômeno mundial", afirma.
Na opinião de Carmona, o primeiro sinal de que a fórmula das
loiras não seria eterna foi o sucesso de audiência do "Castelo", que,
no início dos anos 90, chegou a
preocupar as TV comerciais. "Isso veio mostrar que as loiras não
eram tudo. A TV pública serve
muitas vezes para chacoalhar as
comerciais. O "Sítio do Picapau
Amarelo", por exemplo, foi retomado na Globo, e isso é saudável.
Mas é preciso fazer mais", diz.
Ela admite que a crise financeira
das TVs públicas colaboraram
para um vácuo nos infantis. "Isso
deverá mudar a partir do próximo ano, com a retomada de produção na TVE e na Cultura."
Na opinião de Rita Okamura,
diretora de programação da Cultura, as comerciais estão num
"momento de estagnação" em relação à programação infantil. "A
fórmula loiras se desgastou. Tudo
se esgota, até a baixaria. Hoje, há
mais conscientização do telespectador e do anunciante. A procura
passa a ser por qualidade."
Mentora da "rainha dos baixinhos", Marlene Mattos poderá,
contudo, dar sobrevida ao estilo
Xuxa. No comando artístico da
Band, ela diz que não crê no fim
da fórmula, apesar de achar que
"é preciso experimentar mais formatos". Sua aposta para a programação infantil é a loira Kelly Key.
Atual âncora de desenhos, poderá
comandar um auditório em 2005.
Resta saber se a criançada ainda
engole o "baba, baby, baba".
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