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CRÍTICA
Uma grande reflexão em torno da ética
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Ao contrário da maior parte
dos documentários investigativos, que costumam resolver
os problemas apresentados com
conclusões definitivas, "A Captura dos Friedmans" faz o espectador sair do cinema com mais perguntas do que quando entrou.
O filme é absolutamente perturbador por três motivos: o tema
que apresenta (um escândalo de
pedofilia numa família modelo da
América), a investigação em si
(dezenas de entrevistas que impossibilitam uma verdade única
em torno do episódio) e seu material de arquivo (um conjunto de
filmes caseiros que capturam a
deterioração de uma família).
Assim como "Tiros em Columbine" fazia uma investigação em
torno do belicismo americano, "A
Captura dos Friedmans" fala da
forma doentia como são tratadas
as questões sexuais na América
conservadora. Jarecki retoma o
caso de um respeitado professor
de ciências acusado de abusar sexualmente de seus alunos. Os policiais batem na porta de Arnold
Friedman pela primeira vez no
Dia de Ação de Graças de 1987. A
partir desse dia, sua vida acaba.
A enxurrada de acusações termina envolvendo um de seus filhos, Jesse, apontado como co-autor de abusos sexuais nas aulas de
informática que eles mantinham
no bairro. O diretor Jarecki não
está preocupado em inocentar
Arnold. Mas levanta questões sobre a investigação da polícia e o
processo judicial que vão mostrar
distorções absurdas: muito mais
terrível que a "doença" que estava
oculta no seio daquela família é a
"doença" dos que estão em torno:
vizinhos, pais, policiais, advogados, juízes etc. Todos têm larga
parcela de responsabilidade no
furacão que destrói os Friedmans.
Mas a recuperação do processo
judicial é pouco, perto do que o
filme tem de mais impactante: as
imagens coletadas por David
Friedman, o filho mais velho, que
registrou as brigas e discussões
entre pais e irmãos no desenrolar
do caso. Esse elemento é o que
perturba mais o espectador, tomado pelo sentimento de invasão
da intimidade de uma família
mesmo sabendo que se trata de
uma "invasão" autorizada, e que
dá grandeza ao filme justamente
por desestabilizar certezas. Essas
imagens transformam o que seria
um documentário tradicional em
uma grande reflexão em torno da
memória, da verdade e da ética.
A Captura dos Friedmans
Capturing the Friedmans
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