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Ao custo de R$ 10 mi, "Um Só Coração" será a principal atração de TV das comemorações dos 450 anos da cidade
GLOBO COMEÇA A GRAVAR 32 ANOS DA HISTÓRIA DE SÃO PAULO
O bolo da festa
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
CLAUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, NO RIO
Escrita por Maria Adelaide
Amaral, 61, e Alcides Nogueira,
53, e em gravação há duas semanas, a minissérie "Um Só Coração" será o maior produto comemorativo dos 450 anos de São
Paulo, em janeiro, que mobilizará
boa parte das programações de
Globo, SBT, Record e Band.
Com 52 capítulos, mais de 70
atores e um orçamento de cerca
de R$ 10 milhões, a minissérie,
que estréia em 5 de janeiro (uma
segunda-feira, em edição dupla
com mais de 180 cenas), irá retratar 32 anos da história da cidade.
Começa em 1922, pouco antes
da Semana de Arte Moderna, e
termina em 1954, nas comemorações do Quarto Centenário, passando por duas revoluções e por
uma guerra mundial. Mistura
personagens reais e fictícios com
fatos históricos. Será, na definição
de Alcides Nogueira, um "tapete",
que irá costurar a transformação
da pacata cidade em metrópole.
A trama central será a de Yolanda Penteado (Ana Paula Arósio) e
Ciccillo Matarazzo (Edson Celulari), ambos personagens reais,
mecenas dos modernistas. Na história, Yolanda se apaixona pelo
estudante de medicina e simpatizante do anarquismo Martim
(Erik Marmo). Sua tradicional família o rejeita. Ela se casa com um
primo, Fernão (Hérson Capri).
Traída, se separa e, depois, passa a
viver com o industrial Ciccillo.
De fato, Yolanda teve uma paixão reprimida, mas não foi por
Martim. Os autores preferiram
criar um personagem fictício para
evitar atritos com herdeiros. Pelo
mesmo motivo, mudaram o nome do primo com quem se casou.
Assim como Yolanda e Ciccillo,
personagens reais dos livros de
história irão povoar a minissérie,
alguns envolvidos em casos romanceados pelos autores. Estarão
em "Um Só Coração" os modernistas Oswald de Andrade, Mário
de Andrade, Tarsila do Amaral e
Raul Bopp, entre outros.
"Pela primeira vez vai ser refeita
a Semana de Arte Moderna como
ela foi montada em 1922. Guiomar Novaes (pianista), Villa-Lobos (maestro), todo mundo vai
estar no Teatro Municipal", diz
Nogueira. "Sempre se mostrou
São Paulo como a locomotiva.
Agora a cidade será humanizada.
A história cultural de São Paulo
nesse período se confunde com a
do Brasil. E foram Ciccillo e Yolanda que a colocaram no mapa
cultural mundial", completa Maria Adelaide.
Os autores trabalham como
adolescentes entusiasmados. Vibram com as idéias que aparecem
e com as descobertas de "fuxicos"
sobre os modernistas nos livros e
revistas que servem de fonte de
pesquisa -na última quarta,
quando recebeu a Folha em seu
apartamento, Maria Adelaide espalhou 37 deles sobre uma mesa.
A minissérie, conta Maria Adelaide, nasceu em uma tarde de
abril, quando um executivo da
Globo lhe perguntou se tinha alguma idéia de série sobre São
Paulo. Lembrou do material que
sobrou da pesquisa para a peça
"Tarsila" e propôs "uma trama
sobre a história cultural da cidade", em parceria com Nogueira.
"É o trabalho mais difícil da minha vida", diz Maria Adelaide, autora de "A Muralha" e "A Casa
das Sete Mulheres". "Para fazer
essa tapeçaria histórica é preciso
escrever com propriedade", afirma. "Imagina a responsabilidade
de contar que a revolução de 1924
foi uma zona?", indaga Nogueira.
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