|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Campanha quer criar culpa
no usuário
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Por que você roubaria um
filme?" A pergunta -que será
repetida ao público das salas de
cinema brasileiras nos próximos três meses, na forma de
um trailer- tem origem na sede da MPAA (Motion Picture
Association of America), reunião dos sete gigantes cinematográficos dos Estados Unidos
(Disney/Buena Vista, Sony,
Fox, Metro, Warner, Universal
e Paramount).
Habituados a mirar corações
e mentes com seus produtos cinematográficos, os industriais
dos estúdios norte-americanos
desencadearam neste mês
campanha mundial contra a
pirataria audiovisual.
É uma questão de negócios. A
MPAA estima em bilhões de
dólares as perdas de sua indústria com o hábito de espectadores (do mundo inteiro) de
comprar DVDs piratas ou baixar filmes na internet.
Amolecer os corações "piratas" e culpar suas mentes, igualando esse consumo ao roubo,
é a estratégia adotada no Brasil,
onde a MPAA estima perda de
US$ 120 milhões/ano (R$ 372
milhões) e acusa complacência
popular com a infração e inoperância do governo federal.
"Restam dois caminhos: o setor privado fazer sozinho [o
combate] e a pressão de fora,
do governo americano", diz
Steve Solot, vice-presidente da
MPAA na América Latina.
Nos EUA, a campanha antipirataria oferece incentivo financeiro na tentativa de barrar
o início do processo. A MPAA
dará US$ 500 para cada funcionário de cinema que impedir e
denunciar a gravação de filmes
com minicâmeras nas salas.
100% dos CD-Rs (os discos
de gravação digital) usados nas
cópias piratas de DVDs no Brasil vêm de fora do país, sobretudo do Paraguai, segundo a
Adepi (Associação de Defesa
da Propriedade Intelectual).
É crescente, ainda de acordo
com a associação brasileira, a
venda de minilaboratórios (orçados entre US$ 3.000 e US$
5.000) para a copiagem ilegal, o
que tende a pulverizar ainda
mais a prática da venda ilegal.
A Adepi apóia a iniciativa da
MPAA de centrar sua campanha antipirataria na consciência do público jovem, porque
também avalia que têm sido
ineficazes as tentativas de inibir
a prática pela via legal.
Em 7.000 processos por pirataria audiovisual abertos no
Brasil, houve apenas 16 condenações, e nenhum dos condenados cumpriu pena, segundo
o diretor-executivo da Adepi,
Carlos Alberto de Camargo.
Camargo afirma que mesmo
o total de 7.000 processos é
inexpressivo diante do volume
dos "negócios", que, em sua estimativa, já respondem por
35% da indústria audiovisual
brasileira, resultando numa
evasão fiscal de cerca de R$ 100
milhões por ano.
Mas é duvidoso que o consumidor de DVDs piratas se inquiete com a pergunta que o
trailer da MPAA lança ("Por
que você roubaria um filme?"),
na seqüência das afirmações de
que "você não roubaria um
carro, uma bolsa, um celular"
(veja cenas no quadro ao lado).
"Nossos jovens consomem
produtos piratas pelo prazer da
transgressão", diz Camargo. O
mais grave, segundo ele, é que
"a clandestinidade é um grande compartimento da sociedade, com vasos-comunicantes".
Em resumo, a pirataria audiovisual é prima do roubo de cargas e do tráfico de drogas, na
avaliação de seus combatentes.
Texto Anterior: Os piratas se divertem Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|