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TELEVISÃO
Programas como "I Want a Famous Face" retratam pessoas que fazem cirurgias para ficar semelhantes a celebridades
Fã sofre plástica para virar frankenstein
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
THIAGO STIVALETTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Eles bem que tentaram. O sonho
dos moços da foto ao lado era ter
o rosto do cobiçadíssimo Brad
Pitt. Conseguiram? A julgar pelo
resultado, pode-se dizer que a cirurgia plástica ainda não é tão eficiente quanto a imaginação de
seus adeptos. A dupla pode não
despertar os sonhos de fãs, mas
alimenta o circo de aberrações do
mundo dos "reality shows".
Com a estréia de "I Want a Famous Face" (MTV), dos "irmãos
Brad Pitt", sobe para três o número de atrações no ar que mostram
cenas explícitas de intervenções
cirúrgicas, na maior naturalidade.
Completam o quadro "Extreme
Makeover" (Sony) e a novela
"Metamorphoses" (Record).
"São pessoas que vivem num
mundo de fantasias. Às vezes,
aparecem clientes assim no meu
consultório, pedindo para ficar
parecidos com famosos", diz o cirurgião plástico Sérgio Aluani, 43.
Segundo a Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica (SBCP), o
Brasil só perde para os EUA em
números de operações -50% são
estéticas, e 50%, reparadoras.
Profissionais da área dizem que
os americanos ultrapassam mais
os limites na hora de usar a moda
das plásticas nos programas de
entretenimento. "Se alguma
emissora tentasse lançar um "reality" como "Famous" por aqui, teria
uma grande dor de cabeça com a
comunidade médica e a sociedade", diz Álvaro Mesquita, diretor
da clínica Perfect, que trabalha
com plásticas há 15 anos. Opinião
semelhante tem o também cirurgião Ewaldo Bolivar, um dos idealizadores de "Metamorphoses".
O diferencial de "Famous" é o
fato de levar às últimas conseqüências a lógica dos "reality
shows": nele, não há pudores.
Produzido pela MTV americana,
o programa funciona como um
documentário sobre pessoas que
já tinham operações marcadas.
Cris Lobo, diretora de produção
da MTV Brasil, diz que "Famous"
foi a fórmula que a matriz americana encontrou para adaptar um
formato de programa muito em
voga ao seu público cativo. Mas
diz que não produziria uma versão nacional. "A MTV Brasil não é
tão radical assim e prefere apostar
em fórmulas mais seguras e que
privilegiam o bom humor."
Fórmula nem tão segura, mas
que tem chamado a atenção pelos
bastidores, é "Metamorphoses".
Agora um "reality show" assumido sobre plásticas, a produção fez
o concurso "Garota Metamorphoses". A contemplada, Tânia
de Oliveira, 25, recebeu como prêmios uma participação no programa e uma cirurgia plástica.
"Penso em ter seios parecidos
com os de Scheila Carvalho."
Aqui, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a influência de personalidades públicas é o terceiro motivo que leva alguém a uma clínica. Isso explica o
surgimento de "frankensteins"
locais, como confirmam os profissionais entrevistados pela Folha. "São comuns clientes que desejam certas partes da anatomia
de celebridades em seus próprios
corpos", diz Farid Hakme, 63.
Entram na lista de "pedidos" os
seios de Gisele Bündchen, Syang e
o "clássico turbinado" de Pamela
Anderson; o bumbum de Scheila
Carvalho e o nariz de Xuxa. O ranking segue, portanto, quem está
na moda. "Há uns três anos, todas
as mulheres que vinham aqui
queriam ter os seios da Danielle
Winits. Hoje ela está meio caidinha, então todas pedem os seios
da Deborah Secco." Na esteira de
"Celebridade", o bumbum de Juliana Paes tem lugar de honra.
Um dado que espanta os cirurgiões é o aumento de homens nos
consultórios. Há dez anos, eles representavam cerca de 5% do total
de clientes. Hoje, já são cerca de
30%. A faixa etária diminui cada
vez mais, e eles também têm seus
referenciais: o queixo e o nariz de
Luciano Szafir e Reynaldo Gianecchini, o rosto de Marcello Antony e os hollywoodianos de sempre, Tom Cruise e Brad Pitt.
"As pessoas que me procuram
nunca admitem que querem ficar
parecidas com alguma celebridade, costumam trazer uma revista,
que tenha a foto de algum famoso,
e dizem que desejam um nariz daquele tipo", diz o cirurgião Ovídio
Costa Ramos, 58.
Quem não tem vergonha não se
acanha. O dr. Bolivar relata o caso
de uma cliente que chegou com
um desejo nada modesto: ficar
igual a Vera Fischer. "Era uma
moça baixinha, com rosto redondo e nariz de passarinho. Fiz uma
simulação no computador. Conclusão: era mais fácil ela nascer de
novo." Bolivar afirma que, quando acontecem situações assim, ele
conta a verdade ao paciente. "Desempenho o papel de psicólogo",
diz. Não são poucas pessoas que
se revoltam com o diagnóstico.
"Imagino que esses indivíduos
vão, em seguida, procurar médicos picaretas, que prometem milagres, já que, às vezes, recebo pessoas que sofreram as conseqüências de operações malsucedidas."
Já o presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica
-°Regional de São Paulo, Ithamar
Stocchero, 53, diz que um profissional ético nunca faz uma operação do tipo. "Esses indivíduos jamais vão encontrar a felicidade, já
que o sonho delas é ser outra pessoa, e isso elas nunca vão conseguir", diz. "Veja só esse rapaz, o
Michael Jackson. Ele fez tantas
operações que se tornou uma pessoa extremamente desagradável."
I WANT A FAMOUS FACE. Quando:
hoje, às 23h, na MTV.
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