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COMENTÁRIO
Seja bem-vinda, Maitena
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Querida Maitena: vai ser
muito bom conviver com
você semanalmente, e sua chegada ao Brasil vai mostrar a nós,
mulheres, que entre ficar à beira
de um ataque de nervos e ter esse
ataque, podemos perfeitamente
optar pela segunda hipótese -e
sem nenhum pudor.
Para quem ainda não te conhece, vou contar como você é
-e todas somos um pouco você: queremos cortar os pulsos ao
descobrir uma única celulite na
coxa, enlouquecemos quando
nosso atual chega em casa cansado, nos contorcemos de ciúme
só de pensar que ele teve uma
mulher antes de nós, e por isso
somos chamadas de loucas, veja
você. Não somos loucas, apenas
alteradas, e essa é a nossa grande
riqueza.
Ser alterada é ser normal. Uma
mulher normal é aquela que
uma semana antes de partir para
as férias na praia se olha no espelho sem um pingo de piedade,
como se estivesse olhando para
uma rival, e a partir do que vê
passa a odiar o sol e o mar, e convence o marido e os filhos a mudar o roteiro e a irem todos esquiar. Claro: e a barriga? E os
peitos caídos? E a celulite?
Somos normais quando lemos
no jornal o nosso horóscopo, o
dele e o da pessoa que mais odiamos, quando não falamos no telefone durante o fim de semana
inteiro esperando que ele ligue
(e tirando do gancho o tempo
todo para ver se está funcionando), quando nos recusamos a
transar porque esquecemos de
fazer depilação.
Vai ser bom ter você por aqui,
você que já é tão famosa no exterior, para que nós, brasileiras,
aceitemos com naturalidade que
somos capazes de tudo: que
quando queremos mudar de vida vamos ao cabeleireiro, e que
chamar todas as ex de nossos
atuais de vacas é muito natural.
Pedimos a opinião dos outros
para fazer exatamente o contrário, morremos de vergonha de
pedir certos artigos na farmácia,
nunca vamos visitar nossos afilhados, passamos a vida fazendo
dieta, viramos vegetarianas porque está na moda, nossas geladeiras podem um dia estar
cheias e no outro dia vazias, nos
esquecemos de tomar a pílula e
só percebemos que deixamos o
passaporte em casa quando chegamos no aeroporto. Trabalhamos muito e nos aceitamos cada
vez mais como somos, mesmo
morrendo de culpa em relação a
nossos filhos.
Somos fortes e frágeis, podemos querer um namorado
quando não temos nenhum e
querer estar sós quando temos
um, apaixonadas só queremos
falar deles, achamos que nossos
homens têm mil mulheres, juramos que nunca mais vamos ligar
para eles, somos inseguras, adoramos ir às compras, não resistimos a uma liquidação e sempre
compramos tudo errado. Usamos sombra, esmalte e batom
negros, fazemos tatuagem e
quando eles estão doentes tiramos a temperatura a cada 15 minutos e damos comida na boca.
Para você - como para todas
nós-, toda mulher bonita é
uma piranha, descobrir que seu
ex está gordo e horrendo é melhor que um orgasmo, se ele disser que estamos mais cheinhas
somos capazes de matar, e quando convidamos para uma festa
morremos de medo que não
apareça ninguém; além disso,
somos sujeitas a depressões, que
tentamos curar comendo chocolate ou ouvindo músicas bem
tristes, para ficar pior ainda. Você mostra, sobretudo, que temos
a capacidade e o direito de mudar, e que podemos ser incoerentes, histéricas, algumas vezes
mesquinhas, invejosas, generosas, ilógicas, muitas vezes impossíveis de ser compreendidas
e, exatamente por tudo isso, maravilhosas.
Seja muito bem-vinda, Maitena.
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