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Crítica
Roberto e Caetano fazem show chato
Primeiro espetáculo que reuniu os dois cantores em São Paulo foi modorrento e marcado pela turba de celebridades
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Celebridades loucas para
aparecer, fotógrafos
emperrando a passagem, portões que não abrem,
artistas que se atrasam, excesso
de convidados, inserções abusivas de agradecimentos a patrocinadores, desrespeito ao público em geral.
Duas coisas marcaram o aniversário de 50 anos da bossa
nova. A que preponderou até
aqui foi, certamente, esse frenesi coletivo pelo bochicho nos
eventos de comemoração.
A outra ecoou na pequena série de espetáculos arrogantes e
modorrentos, que começaram
com as apresentações de João
Gilberto, no último dia 14, e terminariam ontem, com o último
dos concertos que reuniram os
míticos Roberto Carlos e Caetano Veloso, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
Eventos elitistas, onde cantar baixinho sobre o amor, a
saudade, o Corcovado e as belezas da orla carioca legitimavam
o privilégio e a sofisticação de
uma casta.
Na apresentação da segunda-feira, a dupla não se saiu mal.
Nem poderia. Alguém duvida
que esses dois gigantes da música popular brasileira podem
cantar "Garota de Ipanema" ou
"Chega de Saudade" muito
bem? É claro que não.
O problema do espetáculo
não era esse. E sim o seu conceito. Ambos os artistas aceitaram passivamente fazer um
show contido, bem-comportado, de arranjos convencionais,
e que não trouxe nada diferente
ou intrigante para um público
cuja última coisa que parecia
querer era se surpreender.
O primeiro bloco, o de Caetano, foi melhor. O cantor, emocionado, abriu o coração para
interpretar faixas que o haviam
influenciado. "Caminho de Pedra" e "O que Tinha de Ser" foram o melhor da noite.
Acontece que Caetano, que
sempre foi genial por tentar
sair do padrão, ao lado de Roberto se intimidou. Fantasiou-se de sujeito mais velho e, para
não destoar do rei, evitou dançar ou adotar o gestual típico
que leva aos palcos e dá graça a
seus próprios shows.
Já Roberto não fugiu em nada de seu formato. Não foi ele
quem cantou bossa nova, foi a
bossa nova que entrou no seu
universo. Se depois de "Insensatez" ele emendasse uma canção qualquer de ser repertório,
digamos "Jesus Cristo", e saísse
distribuindo rosas ao público,
ninguém estranharia. Quando
Roberto está no palco, é apenas
um show de Roberto o que vemos. Seja qual for o set list.
Quando cantaram juntos, foram artificiais, entre sorrisos
amarelos e abraços pela metade. Algum humor em "Teresa
da Praia". Nada demais em "A
Felicidade". Fecha-se a cortina,
acendem-se as luzes, o público
aplaude... olhando para trás!
Claro, era a última chance de
vislumbrar suas celebridades
favoritas saindo de cena.
Pobre Tom Jobim...
Avaliação: ruim
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