São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008 |
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'Cegueira' muda
Após exibição de "Ensaio sobre a Cegueira" no Festival de Cannes, diretor Fernando Meirelles exclui narração em "off", acrescenta uma cena e modifica outra para a estréia do longa no Brasil, no próximo dia 12
SILVANA ARANTES DA REPORTAGEM LOCAL "Ensaio sobre a Cegueira", o longa de Fernando Meirelles que estréia no próximo dia 12, não é exatamente o mesmo "Ensaio sobre a Cegueira" com que o diretor abriu o Festival de Cannes, em 14 de maio. Meirelles modificou o filme, após o festival, onde sua versão para o livro homônimo do Nobel de Literatura português José Saramago recebeu mais críticas severas do que favoráveis. A principal mudança é a subtração da narração em "off" (com a voz superposta às imagens) feita pelo personagem do velho com a venda (Danny Glover). Por ser um narrador onisciente, o velho com a venda é tido como alter ego de Saramago na trama sobre uma epidemia de cegueira que atinge toda a população, exceto a mulher do médico, interpretada pela norte-americana Julianne Moore. A narração descrevia sobretudo os sentimentos e intenções da mulher na segunda parte da história, em que os personagens estão encarcerados. "Foi uma decisão dura de se tomar, mas achei que ficava melhor sem a narração", afirma Meirelles, que saiu de Cannes "com essa pulga atrás da orelha, achando que a narração estava explicando, atrapalhando". O diretor consultou Saramago sobre a mudança. Foi desaconselhado a fazê-la. O escritor viu o filme em sessão privada em Lisboa, três dias após a estréia no Festival de Cannes. De volta ao Brasil, no entanto, o cineasta reviu diversas vezes o filme, "testando-o com e sem a narração". Optou por eliminá-la, mas não por inteiro. Três trechos foram mantidos. Nos pontos em que a locução foi suprimida, as cenas foram ligeiramente encurtadas. Ladrão Outra mudança foi o acréscimo de uma cena envolvendo o ladrão, vivido por Don Mckellar, que é também roteirista do filme, e o primeiro personagem a ficar cego (Yusuke Iseya). Na versão exibida em Cannes, o ladrão sumia com o carro do cego, abandonando-o no meio da rua. Os dois só voltavam a se encontrar no "hospital" improvisado pelo governo. A cena acrescentada mostra o ladrão retornando ao encontro do cego e o acompanhando no caminho do elevador até seu apartamento. O modo como o cego se desembaraça da presença do ladrão e aguarda a chegada da mulher também foi integrado à nova versão. Em sessões-teste com público realizadas antes de o filme ter seu primeiro corte "final", as cenas de estupro foram as mais criticadas. Meirelles suavizou-as, de acordo com o desejo dos espectadores. "Senti que aquilo desconectava o espectador. A partir daquele momento, ele ficava contra o filme", diz. Para a estréia nos cinemas, o diretor fez outra alteração nessas cenas, intensificando sua iluminação. Na projeção em Cannes, o cineasta achou que a imagem estava escurecida demais, o que dificultava ao espectador identificar o grande vilão desta passagem, interpretado pelo mexicano Gael García Bernal. O impacto das modificações na duração total do longa é de apenas um minuto -saltou de 120 para 121 minutos. O filme "ficou mais simples" com as mudanças, na opinião de Meirelles. "Mas, se eu for ver de novo, vou ficar mudando. A solução é nunca mais assistir." Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Crítica: Roberto e Caetano fazem show chato Índice |
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