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Maestro deixa Osusp e ataca burocracia
Carlos Moreno se queixa de que a metade dos músicos não é contratada, precisando se apresentar em troca de cachês
O regente também reclama de seu contrato, "de caráter especial", não ter sido transformado em um
cargo permanente
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O maestro Carlos Moreno
responsabilizou a burocracia
interna da Universidade de São
Paulo pela decisão de se demitir da direção musical de sua orquestra sinfônica, a Osusp, que
ele dirigia desde 2002.
Cita o fato de seu contrato,
"de caráter especial", não ter sido transformado num cargo
permanente. Também se queixa de que a metade dos músicos
-cerca de 40- não é contratada, precisando se apresentar
em troca de cachês.
Queixou-se também da interrupção da série "Aquarela"
de concertos, que chegou a produzir 32 récitas por ano. E do
congelamento do projeto "Academia", pelo qual a Osusp mantinha 25 jovens bolsistas.
Apesar de tudo, Carlos Moreno afirma "fazer questão de
deixar registrada a minha gratidão à universidade, que terá em
mim um aliado". Em entrevista
à Folha, disse também que
"aconteceram algumas coisas
que eu prefiro não comentar".
Entre as que comentou há o
exemplo de suas duas últimas
viagens ao exterior. Ele foi ao
Japão, no início de julho, e, no
mês seguinte, à República
Tcheca, onde há três anos leciona regência num festival.
No dia de seu primeiro embarque, afirmou, a direção administrativa da orquestra argumentou não ter encontrado
uma forma para que a viagem
fosse oficialmente autorizada.
"Eu fui dentro da USP uma espécie de ET: não era docente,
mas não era tampouco um contratado pela CLT."
Sem a autorização, ele se exporia a ser demitido por abandono do cargo, embora fosse ao
Japão para formalizar o convite para a vinda ao Brasil de um
coral que se apresentaria com a
orquestra. "Então decidi apresentar minha demissão em caráter irrevogável", afirmou.
Mesmo assim, continuará a reger a orquestra nos concertos
programados até o final do ano.
Disse também não ter conseguido uma remuneração melhor para os músicos. Eles hoje
ganham em torno de R$ 3.300
mensais. Ou de pagar de forma
diferenciada o spalla -o violinista que é o segundo homem
na hierarquia da orquestra-
ou qualquer músico que atuasse como solista.
Para Moreno, a USP ganhou
uma orquestra sinfônica de altíssimo padrão -é a opinião
dos críticos, que lhe deram em
2006 o prêmio Carlos Gomes-
, mas a estrutura burocrática
não assimilou sua existência,
tratando-a "como uma espécie
de corpo estranho".
A universidade poderia dar à
orquestra o mesmo tratamento
dado ao setor de informática,
que foi objeto de um plano específico de carreira, argumentou. Mas isso não aconteceu. O
maestro disse nunca ter discutido a questão com a reitoria.
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